Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos



A COLUNA PRESTES E OS VALENTES SERTANEJOS


   Muitas vezes, as nossas terras foram pisadas por pés de batalha: poucas perdidas, muitas vencidas. O perigo maior não foi o bélico, o derramamento de sangue, mas o da narração por alguém envolvido com um dos lados da luta ou da ideia de alguns lutadores, manipulando a história conforme intenções tendenciosas ou instrumentalizando-a a serviço de outras finalidades, quebrantando assim a inteireza do acontecimento. O pior é que se leve história distorcida à escola, ensinando-a a sucessivas gerações, mal que só pode ser revertido por uma revisão crítica que ressuscite a história morta para a viva, como lição do passado que explique o presente e previna o futuro. Assim é a deliciosa obra de Coriolano Dias de Sá, Roteiro da Coluna Prestes, escrita de maneira clara, direta e objetiva, podendo ser entendida pelo mais modesto leitor. 
   Destaca a passagem da Coluna pelo sertão paraibano e a memória da chamada Chacina de Piancó: presos e executados pela Coluna o Padre da cidade, soldados e alguns civis. O autor, testemunhado pela boca do povo sertanejo, descreve pegada por pegada da Coluna e como ocorreram cerrados tiroteios enfrentando defensores da Vila do Piancó, que tinham como líder principal seu Vigário, o Padre Aristides Ferreira da Cruz. Foi um vale de lágrimas: com superior poderio de fogo e de organização no combate, a Coluna Prestes se avantajou na luta, submetendo ao infortúnio o Padre Aristides e seus companheiros, que foram alguns emasculados, todos trucidados, degolados, sangrados um a um, como exemplo à população. Os tenentistas disseram que desejariam apenas acampar na cidade; acusaram o Padre Aristides de intransigência e de render-se ao estender bandeiras brancas como estratégia para, de surpresa, contra-atacar a Coluna. Já simpatizantes do Padre Aristides traçam os “gaúchos” e “paulistas” e militares estranhos, como bárbaros, “homens sem palavra e desumanos”.
   Assunto polêmico, que melhor se esclarece com a leitura da obra do Desembargador Coriolano, acrescendo o famoso livro do Padre Manuel Otaviano: Os Mártires de Piancó. O autor contou com a valiosa experiência do editor Evandro da Nóbrega, sertanejo, estudioso dos movimentos sociais no sertão dos euclidianos homens fortes. Sem pretensões de historiador, como confessa, Coriolano não nega à história o que dela conhece e o que a ela pertence, seguindo versos do imortal Fernando Pessoa: “O homem e a hora são um só, quando Deus faz e a história é feita. O mais é carne, cujo pó a terra espreita.”  
 

Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 02/05/2010
Alterado em 05/07/2010


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