Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos



                                       
A Galeria
     
      A Galeria mais bonita é a da parede da sua casa, onde estão as suas fotos, à frente dos retratos dos seus irmãos mais velhos, dos pais, tios, tias, avós e tataravós. É uma esplêndida árvore que, sem alguma palavra, explica a genealogia da família, das raízes aos galhos, com nomes amadurecendo frutos. Serve também para, nos retratos coletivos, perguntar: “- Diga onde estou aí?” E lá se vêm enganos e justificativas: “- Porque parece muito com este aqui”. Há quem guarde as fotografias num álbum; outros não se interessam de relembrar a família. Não resta dúvida: quem ama e admira suas origens e delas se orgulha mostra os familiares como Matteo Scuro (Marcelo Mastroani), numa viagem do filme “Stanno Tutti Bene” (Estamos todos bem) de Giuseppe Tornatore. Em algumas galerias, expõem-se circunstâncias preciosas da vida como nos conta Claude Lelouch, noutra linda película, “Les uns et les autres” (Retratos da Vida), deliciando-nos  com espetacular balé, no Trocadero em Paris,  à música do Bolero de Ravel. 
     Os retratos da vida política do Estado veem-se também na Galeria do Palácio da Redenção (1586). Porém, incompleta, apenas treze sisudos governantes. Não sei por que motivo esta exposição de vultos ilustres paraibanos permaneceu, por tanto tempo, como se fosse assunto apenas de um passado remoto, em pinturas a óleo, entre moldura de singela madeira de lei, expostas na Sala Azul, cujas paredes já definiam esse limite de poucos presidentes do Estado, como eram assim chamados.  A atual e antiga Galeria começa com o Presidente Venâncio Neiva - 1889 a 1891 - e logo se encerra com o governo de junho a outubro de 1930 de Álvaro de Carvalho. 
     Exatamente junho passado, o bom gosto e o interesse pela cultura e história política da Paraíba da Desembargadora Fátima Maranhão fizeram-na perguntar: por que não dar continuidade à iconografia dos sucessivos governos na Galeria já existente? Fez a pergunta e deu a resposta. Consultou-se o IPHAEP, de onde vieram as recomendações técnicas: preservação da Galeria atual onde sempre se encontrou; confecção dos novos retratos no mesmo estilo dos existentes e continuação da Galeria no lado oposto da Sala Azul, na ala esquerda do Palácio, espaço onde caberão as 28 fotografias, estilo óleo, dos governadores que faltam. Reinicia-se por Antenor Navarro - 1930 a 1932 - e Gratuliano Brito - 1932 a 1934 -, terminando com os governadores Cássio Cunha Lima e José Targino Maranhão, à espera da fotografia do próximo governador Ricardo Coutinho. A coordenação da arte foi entregue pelo Governador Maranhão à competência de Milton Nóbrega. Que eles exijam de Milton como Oliver Cromwell do pintor Pocket Book: “Pinta-me como sou. Se omitires as cicatrizes e as rugas, não te pagarei um xelim”. A que ele certamente responderá: quanto mais perfeita a máquina, pior a fotografia...  E assim, farão a história os que são a Galeria e os que dela cuidaram.
 
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Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 12/12/2010
Alterado em 12/12/2010


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