Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


 Procuram-se heróis
 
          Camões, no Canto I de Os Lusíadas, foi quem melhor definiu o heroísmo dos portugueses da sua época: “As armas e os barões assinalados,/ Que da ocidental praia Lusitana, / Por mares nunca de antes navegados, / Passaram ainda além da Taprobana, / Em perigos e guerras esforçados,/ Mais do que prometia a força humana, / E entre gente remota edificaram Novo Reino, / que tanto sublimaram” (...) As qualidades de herói caracterizariam aquele que, para atingir um ideal, segundo valores então vigentes, esforçou-se  acima da força humana.

           A proximidade das mesas de bar faz escutar conversas interessantes da mesa vizinha. Assim, alguém desfez das nossas atuais gerações, provocando:  - Os heróis se acabaram. E então se sucedeu uma série de questões: Mas, por que não existiriam mais heróis?  Faltariam os valores? Não seríamos mais capazes de esforço acima das nossas forças?  Será que não descobriríamos um herói nacional vivo para diminuir nossa inferioridade diante de outras gerações? A discussão foi braba quando se procurou um herói entre os atuais políticos.  Depois de citados cantores, artistas ou homens de grandes shows, argumentou-se que esses ganham fama sem muito esforço e são compensados com muita grana. Citaram alguns jogadores de futebol que entusiasmam as massas e que, mesmo muito aquém do que promete ”a força humana“ e praticando uma atividade lúdica, pelo menos suam a camisa para serem ídolos... Mas, que valores esses jogadores passariam à juventude além das suas habilidades com a bola? O herói deveria ser protótipo de cidadania.  Enfim, concluíram que os cidadãos exemplares de hoje se revestiriam de outro perfil; a figura de herói teria mudado porque as circunstâncias de heroísmo seriam hoje bem diferentes.

          De repente, entram ao bar três jovens vestidos de bermuda e camiseta, distribuindo um boletim contra a violência e a droga. O pequeno papel dizia tudo, inclusive os destacados índices de criminalidade na nossa cidade e do nosso Estado, em comparação com cidades mais violentas do país. O fato reabriu a discussão: Pronto! Três heróis! De repente, os heróis da noite. Sim, os heróis de hoje se fazem em momentâneas circunstâncias que não exigem tanto esforço, mas que lembram remanescente padrão de valores, sem repercussão, também sem força de consagrar “heróis nacionais” com comemorações, feriados ou datas cívicas. Não há mais heroísmo ou está se acabando como o de outrora?                              http://www.drc.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=3569951



Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 22/03/2012
Alterado em 23/03/2012


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