Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


Salvemos o São João da seca
          

 
          O provérbio anda nas ruas: “Cada um sabe onde o sapato aperta”. Mas, a economia do povo mal conduzida nos incomoda, a se verificarem desvios e, às vezes, desastrosos negócios, ao ponto de desmantelarem costumes e tradições. Discursam austeridade demagógica ao pouco e, um descarado perdularismo em relação ao muito. Esses dirigentes políticos, curiosamente surpresos com a seca de sempre, “cancelaram o São João deste ano”, existente desde o período colonial, também enfrentando tempos de seca. Não se argumente friamente o “tanto faz como tanto fez”, nem tampouco “seca sempre tereis”...
         
          São João é do povo, a maior festa tradicional do Nordeste, quando se comemora a colheita do milho, daí, a tradicional culinária de espigas assadas e cozidas, canjica e pamonha, bolos de milho, broa de fubá, cuscuz, pé de moleque, e até arroz doce, cocada e bom-bocado. Ao se dançar quadrilha marcada, o matuto comanda os dançadores e “noivos” através de ordens ditadas por um corrompido francês.  Já os fogos de artifício foram trazidos pelos portugueses dos tempos de Macau, na China.  Aqui, no Nordeste, são comuns, em torno da fogueira, as simpatias das mulheres solteiras que predizem começo ou fim de namoro ou casamento.

          Não se exclua o secular São João do calendário cultural da Paraíba! A nação que se preza preserva, a qualquer custo, essas tradições. O São João, também comemorado noutras regiões do Brasil, é mais festejado no Nordeste. A parte sacra agradece as chuvas caídas ou pede a chuva que não caiu.  Os municípios, “metrópoles do forró”, empenham-se em lucrar com turismo que lota os hotéis; aquecem-se o comércio e a demanda de serviço nos festejos. Essa decisão de “suspender o São João deste ano” não se sustentaria se o povo expressasse sua vontade sobre essa festa popular. Que os governantes diminuam gastos: em vez de faturarem R$ 30.000,00, paguem os devidos R$ 3.000,00 ao sanfoneiro; faça-se o mesmo com as estruturas da festa; cortem suas diárias e dos auxiliares, viagens e outros privilégios dispendiosos, mas deixem em paz nosso São João. Aliás, das festas juninas ao período eleitoral, shows acontecerão, do litoral ao sertão, com despesas maiores do que as de São João, nada afetando os ambicionados “recursos para combater a seca”...  São João leva-nos a crer que a fogueira de cada município queimará em graus diferentes.

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Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 17/05/2012
Alterado em 17/05/2012


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