Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


Osias Gomes, do orador sacro ao tribuno
 
           Osias Nacre Gomes nasceu ouvindo a leitura da Bíblia ora pelo pai, ora pela mãe; cresceu sob a doutrinação do catecismo presbiteriano, a cuja obediência, de acordo com a idade, foi apenas relativamente crescente.  Tanto é assim que sua adesão à fé religiosa se atenuava pela jovial simpatia às ideias progressistas da sua época.  Contudo, à medida que amadurecia, tornava-se, como diz o seu exímio conhecedor, neto e,  como ele jurista, o causídico Cleanto Gomes, um crente evangélico. Em 1956, a Igreja Presbiteriana se fez palco no Rio de Janeiro, para, diante de numerosos fiéis, o renomado pastor Benjamin Cesar ouvir de Osias Gomes belíssimas palavras de profissão de crente praticante e do juramento da sua fé.
 
          Desde então era chamado ao púlpito do templo da Praça 1817, nas proximidades do Paraíba Palace Hotel, em João Pessoa, para pregar humildemente com paramentos de leigo, mas já com o preparo de pastor ecumênico, sem o ranço obcecado do proselitismo e dos fáceis slogans da insistência comum ao fanatismo.  Esse conhecimento lúcido e equilibrado era fruto do seu preparo intelectual, do estudo da Filosofia, do mundo das ideias. Há de convir que, quando Jesus Cristo escolheu rudes pescadores para o anúncio da Revelação, o Paráclito lhes soprou a eloquência convincente dos evangelhos, colocando, na boca  daqueles rudes seguidores sem instrução, o  discernimento, o dom das línguas e da palavra. Osias compreendeu que esses sinais sobrenaturais, cada vez mais, davam lugar à iniciativa e à vontade dos pregadores para se preparem intelectualmente e saberem o que dizer, como dizê-lo e a quem dizer. Como o Profeta, na obra de Khalil Gibran, esclarece o segredo da palavra exitosa: falar o que desejam escutar as nossas almas... 
 
          Osias bem sabia caminhar, passeando por cada categoria do conhecimento, fosse na “poésis” que goza de toda liberdade de expressão; fosse na cientifica ou filosófica que se limita pela razão; fosse pela força da fé que nos exige maiores limites, impondo aceitações dogmáticas.  A síntese da fé e da razão ou da razão e da fé, em Santo Agostinho, está maravilhosamente explicita na sua obra “Paulo de Tarso e o Pensamento Moderno”, cuja sentença inicial reitera a quem busca a fé essa conjugação agostiniana: “O homem foi criado racional”; ao que acrescento: para depois, sem despojar-se da racionalidade, enveredar pelos caminhos da fé como se procura um tesouro.  Essa obra de Osias constitui ensinamento a qualquer pastor, diácono, padre, freira, bispo ou religiosos que abracem a missão, tão admoestada por Jesus Cristo: “Ide e ensinai a todos os povos” (Bíblia de Jerusalém, Mateus, 28; Marcos, 16). À medida que Osias pregava, mais lhe pediam sua palavra que, com pujança de semente, de árvore crescida ou de fruto verdejante, descortinava o sacro das coisas profanas,  e o profano, das coisas sacras.
 
          A Academia Paraibana de Letras não tardou, ao criar suas quarenta cadeiras, convidar Osias, esse cidadão de conduta estóica, como fundador da cadeira nº 5, cujo patrono foi o ilustre Alcides Bezerra.  Osias quanto mais escrevia mais revelava que seus escritos e discursos mereciam a consagração à imortalidade. E assim se fez grande tribuno, senhor de “rara cultura e erudição”; citava filósofos, como Aristócles Platão, René Descartes, Immanuel Kant, Arthur Schopenhauer, Henri Bergson, Bertrand Russell , Jean-Paul Sartre e tantos outros com versatilidade e maestria.  Eis como o paraibano Osias Gomes, honroso membro da APL, fez-se de orador sacro um grande tribuno. E cada vez mais que, na Tribuna Jurídica, aperfeiçoava palavras humanas, no púlpito, mais dizia o sagrado com palavras divinas. 
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 30/09/2012
Alterado em 30/09/2012


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