Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


 
O nome de Deus em vão...
 
          Quando era muito pequeno, em 1953, o primeiro dinheiro que eu peguei, na minha vida, foi uma moeda de cinquenta centavos, cunhada com o rosto e o nome de Getúlio Vargas. Era o que meu pai Inácio Ramos me dava para eu comprar soda na bodega de “seu” Ernesto: “Segure bem para não perder, compre duas sodas. Volte logo, tem troco...”  Ia correndo, atravessava a rua para a calçada do Mercado e chegava à venda, contígua à Prefeitura de Pilar. Poderia comprar muitas sodas com tal moeda porque ela tinha valor apenas com Getúlio e o seu nome.  Assim se amoedava imagem de César na moeda romana. Hoje, nem Caxias, nem Getúlio, nem Rui Barbosa...  discute-se colocar ou não o nome de Deus no nosso dinheiro. 
 
          Dias trás, satisfeito ou insatisfeito com o resultado, Chico Cardoso  de repente retirou a “Enquete” sobre a preferência de votos para Governador em 2014, para questionar se “você concorda com a proposição do Ministério Público Federal, que pede a retirada da frase "DEUS SEJA LOUVADO", das cédulas do Real”. Estavam, em termos percentuais, 71% para “não”,  e 29%,  para “sim”. Havia interações com o Portal Caldeirão Político que vibravam porque Deus estaria ganhando em descambada,  e os “hereges” do “sim”, fragorosamente derrotados, perdendo feio e,  ainda talvez , aguardavam alguma vingança divina. Problemas por vivermos num Estado laico e jogar-se o nome de Deus em vão... 
 
          Concluí que quem quer louvar a Deus naquele lugar tem muito amor e apego ao dinheiro; acham que o “vil metal” presta maior louvação a Deus. E que, sendo dinheiro, Deus daria atenção especial a esse correio entre a terra e o céu. Engano. No céu, dinheiro não entra. É difícil entrar até quem pegou o ouro e o dinheiro com avareza, sobrepondo-os aos valores da criatura humana. Ora, “in nillo tempore”, foi dito que será mais fácil uma corda de atracar navio passar pelo fundo de uma agulha do que esses entrarem no reino dos céus.  Observemos como Jesus Cristo expulsou do templo os vendilhões que estavam envolvendo seus negócios com o sagrado.  Se Cristo fosse votar nessa enquete de Chico Cardoso, com certeza, votaria “sim” e escreveria e-mail ao Caldeirão Político, esclarecendo o assunto com a seguinte declaração de voto: “Dai a César o que é César e a Deus o que é de Deus”...  
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 08/12/2012
Alterado em 08/12/2012


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