Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


                              
      Quase pontualmente em 2013
 
          Dizem que Zé da Hora era obcecadamente pontual, mas, mesmo ainda dormindo e tomando banho com o relógio, começou a não dar importância ao tempo; a não distinguir hoje de ontem ou de amanhã e até onde de quando. Parece até que deveio pedra, indiferente ao que passou ou ao que passará. Para os negócios e os prazos jurídicos, tornou-se um verdadeiro irresponsável. E, no mundo amoroso, um ingrato, ao dizer que vai e não vai, como que qualquer hora fosse tempo de amar.  Justifica que chegar depois do que prometeu à amada não tem nada a ver com sua quantidade de amor, sobretudo porque, não raras vezes, também chega antes ou muito antes. Não se perturba com o acontecer ao correr do tempo; só não perde avião, quando chega com muita antecedência ou alguém lhe avisa que seu nome foi chamado pela última vez. Contudo, já perdeu até avião que caiu...
 
          Na maioria das vezes, chega muito depois, e fica todo mundo dizendo que ele fareja o que lhe é conveniente ou favorável, atrasa-se no momento das obrigações ou adianta-se no das vantagens, manifestando o oposto a qualquer sintoma de loucura. Contradiz qualquer conceito filosófico de que a circunstância possui força determinante, fazendo ele acontecer muito bem para si o que vai ser ou o que poderá ter.  
 
          Segundo especialistas da mente, psicólogos, psiquiatras e psicanalistas, sua anormalidade é coisa atípica, nada de loucura, até, de certo modo, um homem inteligente. Os exobiólogos teorizam ser sintoma extraterrestre, de gente superevoluída que, ao perder seu planeta, se superou em relação ao tempo e ao espaço. Vive sem hora de dormir, de acordar ou de comer, muito menos de fazer amor, sendo até inconveniente, em algumas ocasiões sociais, sempre alertado por ela: - Agora, não! Mas, se é ela convidativa, não é besta, arranja o momento adequado. Sua conduta é curiosidade daqueles que cuidam dos males da época: nunca mais teve estresse, aperreios ou doenças modernas, porque, conforme parentes e amigos, nunca mais lhe faltou tempo. Vive sorrindo nas horas difíceis, quando não cumpre seus compromissos, daí ser também apelidado de “Maluco Beleza”.  Zé não é um “Zé” qualquer, admirado como excêntrico, ignora quando nasceu, aceita como ninguém sua própria idade, não conta o passar das horas, nem o dos dias, tampouco distingue o fim de 2012 do início de 2013. 

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Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 28/12/2012
Alterado em 29/12/2012


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