Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


Parlamentares, Palavras ao Vento
 
          Desde a expressão latina “verba volant” (as palavras voam) até as mais populares como “quem tem ouvidos para ouvir ouça” (Mc 4,9), muita gente não dá ouvido ao pouso das palavras que voam. Há várias referências aos graus de atenção que prestamos ou não àqueles que nos falam, contudo nada justifica qualquer pretensiosa ou despretensiosa desatenção.  Ora, falar significa dizer alguma coisa a alguém, até quando estamos “falando sozinho”, ensaiamos argumentar, falando aos nossos atentos ouvidos. E, quando alguém se entretém com conversas ou outras falas, não desvalorizemos nossas palavras; calemo-nos para não jogar o que dizemos perdulariamente ao vento ou ao lixo... Enfim, a natureza nos dá o ouvido que serve à boca; a boca, ao ouvido; e nunca a boca serve a bocas simultaneamente em barulho. Jesus recomenda sobre o que se anuncia: "Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos..." (Mt  7,6)
 
          Todas as faixas etárias abjuram a rejeição dada pelos próprios senadores,  vereadores,  deputados às suas falas nas tribunas do Senado, das Câmaras ou das Assembleias, mostrando total  indiferença ao que é dito. Uns parlamentares viajam, outros permanecem nos seus gabinetes; há até os que vão ao “trabalho”, mas ausentam-se do parlamento, pois postam-se de costas aos que discursam supostamente sobre problemas e soluções de interesse do povo e,  ainda mais efusivamente, tagalerando sobre outros assuntos. 
 
          Melhor seria não financiarmos a transmissão desse revoltante mau exemplo ao país que ganha imitação nas salas de aula, igrejas, lançamentos de livros, posses ou em velório, em desrespeito ao silêncio do morto, durante o discurso fúnebre. No nosso Congresso, às vezes vazio, tais representantes veem, escutam e percebem muito bem que não estão sendo ouvidos, que pronunciam suas palavras ao léu; contudo, falam, falam e até insistem em discursar além do tempo que lhes é concedido.  O Presidente da Sessão interrompe quem fala, mas nunca quem não escuta e atrapalha a ordem e o bom resultado dos trabalhos. Discursam sobre causas sociais? Problemas do povo?  Soluções preciosas? Não parece! Se nossos representantes desprezam seus “pronunciamentos”, nós, representados coerentemente, não devemos valorizá-los.  Enquanto eles demonstram, através desse “golpe branco”, que o parlamentar é dispensável, nós, respeitando o valor da democracia e do poder legislativo, apenas desliguemos nossos ouvidos e televisores ao perdurar essa balbúrdia política: falam quando não devem e, omissos, calam quando deveriam falar... 

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Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 04/01/2013
Alterado em 04/01/2013


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