Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


 
Paulo Benevides Gadelha e a APL
         
            Paulo Gadelha, o cronista que se dividiu e se disputou entre Recife e João Pessoa, entre o Diário de Pernambuco e o jornal Correio da Paraíba que me deu a honra de tê-lo ao meu lado, todos os domingos, como em companhia dos cronistas confrades Evaldo Gonçalves, Carlos Aranha e Carlos Romero. Foi falando, discursando, parlamentando, escrevendo que Paulo Gadelha talhou a si próprio em esculturas “michelangelianas”, ora resistindo às injustiças, ora relembrando o lirismo da vida, ora lamentando a dor humana, ora trazendo-nos de volta vultos filosóficos, políticos ou literários, ora felicitando o prazer da perfeição. Sua vida de conhecimentos o caracterizou como um dos maiores intelectuais paraibanos da atualidade; e este preparo fluiu com esmero quando ele fruía a beleza da “poésis”, no discurso que pronunciava, nos palanques políticos, nos atos solenes, como nos colóquios em que dava à palavra um trato conceitual, lógico e estético.

          Paulo ensinou que há tempo e “espaços que têm o selo das coisas imperecíveis e espelham a vida”. Não somente “imperecíveis”, mas inseparáveis, como é ele da cidade de Sousa, dos queridos amigos, dos amados irmãos, da estimada família Gadelha e, para concluir, da sua fascinante Academia Paraibana de Letras. Ocupou a cadeira 23, sucedendo a escritora Mariana Soares Cantalice e anteriormente ocupada por uma plêiade de ilustres juristas: O ex-governador Álvaro de Carvalho; o ex-presidente da APL e do TJ Aurélio de Albuquerque; o ex-Ministro da Justiça Abelardo Jurema, renomado itabaianense, a quem se deve, dentre outros feitos, a federalização da UFPB.
      
         A palavra sempre foi instrumento de luta de Paulo Gadelha, como seguisse Carlos Drummond nos versos: “Lutar com palavras/ (Parece ser) a luta mais vã/ Entanto lutamos/ mal rompe a manhã/ São muitas (as palavras) e eu posso”. E depois de viver assim lutando, definiu-se como “ótimo” na observação de Berthold Brecht: “Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam, e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons. Porém, há os que lutam toda a vida, estes são os imprescindíveis”. Paulo, imprescindível, transcende as ações e voa à imortalidade em relação às palavras; pronunciou-as não sendo mais suas porque não as escreveu para si, mas, pelo seu próprio conteúdo, para os outros. E agora, ditas ao mundo, mesmo escritas, tornaram-se palavras que, imperecíveis ao tempo, voam aos homens e às terras sem confins.

Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 14/03/2013
Alterado em 20/03/2013


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