Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


Revoltados por outros motivos...
         
         Há 45 anos, Daniel Cohn-Bendit, jovem judeu-alemão chamado de “Danny le Rouge”,  liderou milhares de alunos da “Université de Nanterre”, clamorosos por mudanças. O estopim pegou fogo por duas centelhas: a não existência do Curso de Letras naquela recém-criada universidade e a proibição dos alunos visitarem alunas em seus aposentos ou serem visitados por elas... Geralmente, tais revoltas se originam de uma faísca, de uma gota d’água; aqui, no caso, de poucos centavos... Mas, logo despertam acumulados motivos, sobretudo o de mudanças políticas. Na França, o inconformismo já vinha sendo incendiado pela contracultura, pela revolução sexual, pelo surgimento dos hippies e dos “movimentos sociais”; milhões de jovens já vestiam roupas e faziam penteados estranhos aos costumes. No entanto, segundo o historiador Alexandre Roche, a França de 1968 era ainda o século XIX.

          Então, milhares de estudantes marcharam para Paris; encontraram-se com os da Sorbonne;  retiraram o calçamento dos “boulevards” e com os paralelepípedos se defenderam em barricadas, protegendo-se  dos policiais ordenados a “limparem”, a qualquer custo, o “Quartier Latin”. Voltava à cidade o espírito da Comuna de Paris. Em faixas, liam-se frases emblemáticas que se universalizaram pelo mundo: “É proibido proibir”; “Todo poder abusa,o poder absoluto abusa absolutamente”; “Abaixo o realismo socialista”. “Viva o surrealismo”; “Quando a Assembleia Nacional se transforma em um teatro burguês, todos os teatros devem se transformar em Assembleias Nacionais”; “A revolução deve ser feita nos homens, antes de ser feita nas coisas”; “Quanto mais amor faço, mais vontade tenho de fazer revolução”; “A sociedade nova deve ser fundada sobre a ausência de qualquer egoísmo e qualquer egolatria”; “Abaixo a sociedade de mercado”; “O sonho é uma realidade”. Porém, hoje, aqui, muitas faixas contra a corrupção...

          O confronto continuou. O prestigiado general Charles De Gaulle, comandante da resistência à invasão nazista em 1940, afastou-se do cenário político. E, por estratégia, assim procederam o Partido Comunista francês e o socialista.  Aos estudantes se somaram operários e jornalistas. Amedrontou-se o governo, banindo  Danny le Rouge que, depois,  reingressa na França com os cabelos tingidos de preto. A situação se torna incontrolável. Em junho de 1969, De Gaulle se submete ao veredicto popular e ganha as eleições; mas, reconhecendo a urgência das reformas e abalado por tais episódios, renuncia a Presidência, em 27 de abril de 1970.  Esse exemplo e suas conquistas se espalharam por todo o mundo e, ainda hoje, acontecem...         

Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 21/06/2013
Alterado em 21/06/2013


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