Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos



Comemorações de Natal
 

          As comemorações que realizamos em vida são motivadas por várias razões. Há quem comemore para rememorar fatos, acontecimentos, circunstâncias ou pessoas cujas lembranças alegram a vida e reforçam o desejo de que o comemorado continue existindo ou até novamente se repita. Nesse sentido, nada mais interessante quando casados comemoram o início do namoro; bom indício de que o namoro, possivelmente, continuará depois do noivado, durante o casamento ou já se tendo filhos ou filhas aprendendo com os pais esse valor do namoro enquanto alimenta o espírito de conquista, a longevidade da sedução e a vida do amor. Assim, nada melhor do que disse, na comemoração de núpcia, aos recém-casados Arthur Fernandes e Renata Ferreira: namorem para sempre...  Por que mais se comemorariam aniversários, formaturas, realizações profissionais e até uma inesquecível comemoração?

          A comemoração mais universal que observei em vida é o Natal. Memorável para sempre é o enredo do impressionante filme Trégua de Natal (Joyeux Noel, Christmas Truce, Weihnachtsfrieden) em que as tropas beligerantes, nas escavadas trincheiras, pensavam a noite de Natal acontecendo nas casas das suas famílias. De repente, um dos soldados começa a cantar a linda canção “O! Tannenbaum“   .  Logo a seguir, mais duas vozes, mais vinte, mais centenas de vozes e, finalmente, um grande coro entoou hino à confraternização de amigos e “inimigos” no campo de batalha, sob o comando do espírito do nascimento de Jesus Cristo. Reinaram a paz e amizade com abraços, pão e vinho, em vez de guerra, numa noite que não teve fim...

          Esse milagre atordoou os dirigentes políticos e “generais” que se beneficiariam com a guerra, o ódio, a violência e as mortes. Preocupados com “armistício informal”, logo começaram a desfazer o milagre do amor para transformá-lo em ódio e em ganância de poder, punindo quem comemorou o Natal abraçando o “inimigo”; a condenar à morte quem não voltasse a matar; a formalizar processos judiciais para culpar os militares patenteados que não conseguissem retransformar soldados bons e pacatos em perversos e cruéis guerreiros. Visitei o Monumento com uma cruz, nas vizinhanças de Ypres, na Bélgica, comemorativo aos quase 100 anos dessa memorável Trégua de Natal de 1914. Qual  monumento comemoraria, caro leitor, esse Natal como fim dos vaidosos e tolos ressentimentos, causados pela inveja, pela ganância, pela luxúria ou pela ausência do nascimento de Cristo em cada um de nós?

 
 
 
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 14/12/2013
Alterado em 15/12/2013


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