Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos



Isso é carnaval...

          Não é novidade, a humanidade sempre promoveu grandes festas para o lazer. Numa dessas, Noé, o da Bíblia, tomou um porre de vinho e desnudou-se. Recoberto pelo filho com um lençol, alegou ter tudo acontecido fora da sua consciência. Baco (Dionísio), filho de Júpiter e deus do vinho, conquistou a Índia acompanhado de homens e mulheres, tendo como armas de guerra apenas tambores. Depois das vitórias, fazia festas homéricas, animadas por ninfas, sátiros, pastores, pastoras, e também pelas Bacantes, suas sacerdotisas; daí o termo "bacanal", usado para orgia. Para isso, Baco fundou a primeira escola de música. Também era chamado de Liber (Livre), uma vez que o vinho entusiasmava condutas incontroláveis, a liberar instintos. Do seu nome "Livre" surgiram "festas liberais”. Condenado por Juno à loucura, Baco vagou pelo mundo, espalhando bacanais. Mito? Há 600 anos a.C., os gregos instituíram uma longa festa anual para agradecer aos deuses a fertilidade dos campos. Quase 600 anos d.C., a Igreja consentiu, antes da liturgia penitencial da Semana Santa, o prazer do “carnis valles”, isso é carnaval...

          Está chegando. Finalmente, “ninguém é de ferro” para suportar, o ano inteiro de trabalho. E não chegando para descanso, para meditação, senão para exorcizar inseguranças, fantasmas que rondaram as nossas portas. Os tamborins estão esquentando; as mulatas descendo o morro, lindas, torneadas, reluzentes à luz do sol ou dos refletores; inigualáveis, enveredarão pela avenida acompanhadas pelo frevo ou pelo samba, contorcionando-se no mistério dos sons e do seu corpo como sacerdotisas de um culto sagrado; sensuais e misteriosas, revelando o segredo de um aprendizado ensinado pela sensualidade do batuque.

          Muitas mostrarão corpos cobertos de purpurina para esconder o restinho do pudor e aguçar instintos; alguém ainda poderá dizer: "Vou beijar-te agora \ Não me leve a mal \ Hoje é carnaval !..."  Depois, algum Pierrô, retirando a máscara, chorará o amor perdido de alguma Colombina; quando haverá eflúvios, sorrisos, mentiras e juras. Sem música, virão as cinzas, o silêncio das ruas, as olheiras, o despertar, deslembranças, saudades ou arrependimentos. Mas, valeu a pena, esquecer, por três dias, o ano inteiro vigiando esperanças, aparando amarguras, contornando desencantos ou comemorando alguma alegria. Assim passa a vida... Terminado o carnaval, em algum lugar, alguém poderá dizer a outrem: - Tenho a impressão de que te conheci no carnaval.  Daí, quem sabe, renascerá uma história de amor.

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Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 21/02/2014
Alterado em 24/02/2014


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