Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


 Mujica, trabalhador e franciscano

             A nossa terra é também rica em culinária, com o nome de “Mujica do Pará”, serve-nos uma excelente receita de camarão, temperando-a com aviú, farinha de piracui, cenoura e batata cozida em cubos, ervilha, tomates, cebola, alho, alfavaca, chicória, azeite de oliva, limão, vinho branco seco, farinha d’água, cheiro verde, pimenta e sal a gosto.  Com apenas o ingrediente “mujica”, os uruguaios nos servem uma extraordinária receita de político...
           Dir-se-ia que Mujica é político franciscano, desprovido de ganância pelo vil metal, o dinheiro. Nesse aspecto, distribui quase noventa por cento da sua gratificação de presidente da república a instituições beneficentes do seu país.  Veste-se, quando circunstâncias oficiais não impõem gravata e paletó, como um plantador de acelga, da sua chácara, distinta nos arredores ou no cordão verde de Montevidéu, onde recebe o povo e, sem descriminação, autoridades, jornalistas e compradores de verdura dessa sua propriedade. Tudo isso, simplesmente, porque se considera um cidadão igual, sem demagogia, igual a todos os uruguaios. Meses atrás, li sua revolta, ao ser chamado de “presidente mais pobre do mundo”. Como um bom pensador, irritou-se e refutou tal destaque, referindo-se à concepção de pobreza num mundo que prega a “felicidade” dos lucros e das enormes riquezas: “Eu não sou pobre. Pobre são aqueles que precisam de muito para viver, esses são os verdadeiros pobres, eu tenho o suficiente. Sou austero, sóbrio, carrego poucas coisas comigo, porque para viver não preciso mais do que tenho. Luto pela liberdade e liberdade é ter tempo para fazer o que se gosta (...). Deve-se trabalhar muito, mas não me venham com essa história de que a vida é só isso...”
          José Mujica, enquanto Presidente do Uruguai, conquistou seu povo pela sua simplicidade e, sobretudo, pelo seu trabalho, pela consciência e pela práxis do que seja um político, desfazendo o pleonasmo, como  “açúcar doce”,  aqui tão corriqueiro de “político honesto”. Nada o obriga a distribuir sua remuneração, mas isso é uma das consequências do que sabe sobre a função de dirigente político. Como exemplo, divulga-se esse seu pensamento pelo mundo afora, como o sobre aqueles que se candidatam a servir na vida pública: “Há pessoas que adoram dinheiro e se metem na política. Se adoram tanto o dinheiro, então que se metam no comércio, na indústria ou que façam outra coisa que queiram... Não é pecado. Mas, a política é para servir ao povo”. 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 17/10/2014
Alterado em 17/10/2014


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