Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


O Dia Mundial da Água
 
          Em 1954, em Pilar, ouvi falar, pela primeira vez, sobre a importância de uma coisa tão comum, a água. Eram dias de cheia no rio Paraíba; na Mercearia de Dona Lita, o irreverente Cícero soltou um gracejo: “Não sei pra que tanta água”. Como de costume, o Fiscal de Renda, sentado à mesa, onde sempre bebia, reagiu aborrecido: - Melhor sobrando do que nada, duas coisas não podem faltar nesse mundo: água e cerveja... Não se calou, continuou apologizando a água e bebendo cerveja. A cidade desconhecia aquele homem cobrar imposto e tampouco beber água. Mas, em tempo de chuva ou de cheia, a água era o assunto, do jeito do sertão, em tempo de seca...
          Hoje, observo nas netas, nos netos, o discurso escolar: A vida se originou da água; se em outros planetas houver vida, é porque por lá existe água; o corpo humano é constituído, em 65%,  de água; só se têm saúde e beleza se bebermos três litros desse líquido por dia; sem água, não haverá comida, nem energia hidroelétrica, já se precisando da perigosa usina atômica; devemos cultivar árvores, preservar matas, porque sem elas, os rios não terão cheias, seus leitos começarão um  crescente deserto; se não reaproveitarmos a água usada,  não se encontrará a água escondida no lençol freático e também aquela passeando no céu em forma  de nuvens; em populações do mundo,  em grandes concentrações de gente como na China, na Índia e na Nigéria ou em cidades maiores como Rio de Janeiro e São Paulo, onde nunca faltou água, sua  escassez é preocupante. Enfim, o colapso está para vir. Sem água, o que será de nós?
          Porém, à escuta, vejo, na televisão, nas ruas, quem dê banhos e banhos nos automóveis e haja perdularismo lavando calçadas; ouço profecias e debates admoestando que a água, como tem sido o petróleo, tornar-se-á causa de conflito, de guerra. A ONU, preventivamente, proclamou, desde 1993, 22 de março como o Dia Mundial da Água. Tal data passou sem alardes comerciais, sem os mesmos festejos do Dia das Mães, dos Namorados; contudo, esse dia serve para conscientizar-nos do valor da água que, consumida e despercebida em todos os dias, lembre-nos, em vez de conflito, solidariedade e cooperação. Há fé no apocalipse ateando fogo na Terra ou crença no mais provável, o “fim do mundo”, provocado pelo homem, por falta d’água...

 
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 27/03/2015
Alterado em 29/03/2015


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