Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


                                   O São Francisco nos socorre

          O Rio Paraíba, o maior curso d'água que se origina e termina neste Estado, descia às carreiras a Serra de Jabitacá, estendendo-se, de mais de mil metros de altitude, em direção ao quintal da minha casa; suas águas passavam por lá para completar, em Cabedelo, seus 380 km de extensão. Quintal por assim dizer, mas era um sítio, que separava a casa e a margem esquerda do rio. Naqueles tempos de infância, em  Pilar, vez ou outra, o rio visitava esse quintal, provocando traquinices de menino, tornando minha infância parte das suas enchentes. O  rio caudaloso passava, carregando árvores, canoas, bodes, bois e cavalos que, distraídos, eram arrebatados do pasto. E meu pai Inácio, cauteloso, mostrava a mim, Marilene, Ivan e Mariluce, o que era a cheia. Se a enchente me atemorizava, mais medo fazia ao escutar, no velho rádio ABC, ela cobrindo a ponte e invadindo casas em Itabaiana. Sivuca sofreu muito esse aperreio, ao morar logo à vista das águas, no outro lado do rio, no distrito de  Campo Grande. O Rio Paraíba, no inverno, formava de Itabaiana, Pilar, Espírito Santo e Santa Rita uma só comunidade sofredora sob ameaças de inundação. As conversas da minha mãe Lia com Dona Lita e Dona Vicenza apavoravam as crianças, contando história de “dilúvio”, de Noé, da Bíblia como “castigo para lavar o sujo no mundo do pecado”. No entanto, a inocente meninada usava tal medo para não se afogar...
          Hoje, o  medo virou o contrário do da enchente, teme-se que o rio seque. A cada dia, seu leito quase totalmente nu, despido d’água, mostra suas areias aos que lucram em vendê-las. Mas, sexta-feira, 10 de março de 2017, vi o bendito São Francisco socorrer o "irmão rio" com  abundantes águas, trazendo ao Paraíba uma enchente, nunca vista, permanente e independente de chuva. Dessa milagrosa transposição, donas de casa de Monteiro encheram  garrafas como se estivessem colhendo "água benta" para curar outros males.  
          O Governador Ricardo Coutinho, com sua peculiar coragem, agradeceu, com justiça, a todos que colaboraram para que o milagre descesse dos céus às terras do Cariri e do Sertão: Ao Ministro Helder Barbalho, incansávelmente presente às necessidades da Transposição na Paraíba; ao atual Presidente Temer que assumiu interesse de apoiar e acompanhar a conclusão da obra; a então Presidente Dilma, tendo ao lado Temer como Vice, feitora de 71% daquele histórico  momento, e ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, iniciador, obreiro das primeiras e firmes pedras da sapata e que erigiu altas paredes das represas ou os túneis nas montanhas. Enfim, suas palavras maravilharam mais ainda aquelas águas e a assistência, quando disse a pérola de todos os discursos: "Essas águas não só acabam nossa sede e a seca que atormenta a natureza, mas, sobretudo e definitivamente, afogam o coronelismo político, antigo e atual, que chantageava essa necessidade do povo em troca de enganosas soluções: Latas d'água, carroças e carros-pipas. Contra essa má política e para o bem do povo, a Transposição do Rio São Francisco traz libertação ou águas que significam liberdade". 

 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 14/03/2017
Alterado em 19/03/2017


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