Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


                                     Dom José beija nossa terra

       Conhecido como Dom Pelé, por ser um dos poucos bispos negros no Brasil, também assim apelidado por Dom Távora por ser um "goleador" de excelentes ideias na CNBB, o Arcebispo Emérito da Paraíba, José Maria Pires nunca sentou no banco de reservas do time da Igreja, parecia, segundo o saber da petrologia, um mineral imprescindível à grande pedra, enquanto resistente rocha dita por Jesus  (Mt 16, 18 - 19) : "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja..." Como se fosse um vidro vulcânico, transparente e melhor do que todos os cristais, com jeito de matuto, chegou a João Pessoa, em março de 1966, da Diocese de Araçuaí, do interior das Minas Gerais, fazendo o belo gesto iniciado pelo Papa Paulo VI, então cardeal Montini às portas de Milano: O novo Arcebispo, na entrada da cidade de João Pessoa, à vista dos moradores de Oitizeiro, o que foi repetido, anos depois, pelo Papa João Paulo II, ao viajar a outros países em visitas apostólicas, beijou  a terra que o recebia e disse: “Faço como o Profeta, bato as sandálias, retiro o pó de outros caminhos e beijo esta terra santa antes de pisá-la. Sagrada é esta terra pelas crianças, mulheres e homens paraibanos. A Paraíba é santa porque é exemplo ao país de sagrada cidadania”. Beijou o chão no qual, para ele e por justiça, sempre haveria um pedaço àqueles que quisessem cultivá-lo. E assim, simbolicamente, deu sinal de ser diferente "príncipe da Igreja" e de que dedicar-se-ia à causa dos menos favorecidos; contudo, quanto à pastoral, os pés do bispo Pelé, esquerdo e direito, ambos chutando com muita força, sempre o mantinham em equilíbrio. Aqui permaneceu até dezembro de 1995, quando, sentindo que lhe diminuíam as forças para essa luta, pediu a Deus para entregar seu cajado a outro pastor.
       Identificou-se como um homem simples, culto e sábio. E nessa simplicidade, a convite de amigos, retornava sempre a João Pessoa para festejar seus aniversários de nascimento, de sacerdócio ou novas conquistas do seu rebanho. Agora retornou pela última vez... Estive ao seu lado também na  inauguração do Memorial Padre Comblin, em Santa Fé, em Arara, onde moraram e estão sepultados seu amigo filósofo e teólogo Joseph Comblin e o Padre Ibiapina.  Em João Pessoa, houve comemorações marcantes dos seus setenta anos de sacerdócio e Dom José concelebrou Ação de Graças na Catedral Basílica de N. S. das Neves que, hoje, também lhe serve de sepulcro. 
       Assim, foram quase cem,  noventa e oito anos vocacionados à vida de pastor, dedicados às ovelhas do povo eleito de Deus. Sua voz corajosa de profeta nunca abandonou uma só ovelha ou o rebanho no vale das injustiças e assim continua ecoando; pobre como São Francisco, ao contrário dos mercenários que pregam mais o dízimo do que a Boa Nova, não acompanhava suas ovelhas para retirar-lhes lã, leite ou carne, mas para protegê-las com altiva coragem, quando ameaçadas pelos "lobos vorazes vestidos" de poderosos. Por isso, amado, reconhecido à distância pela sua voz, será lembrado pelas palavras evangélicas que sempre anunciarão amor e justiça; Dom José Maria Pires doou sua vida a serviço do povo de Deus e sempre será visto e ouvido por estes prados: Seu espírito, rondando estradas e caminhos, chamar-nos-á aos campos de verde relva, especialmente, as ovelhas famintas de justiça que amam e conhecem o bom pastor, e que, alegres e reconfortadas, sempre farão sua imortal longevidade. A elas e a ele que se igualou a todos nós ovelhas, promete-nos o Salmo 23: "Nada lhes haverá de faltar"...



                                           
                                                    

 
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 29/08/2017
Alterado em 03/09/2017


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