Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

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                                                Walter Correia Brito
 
 
           Logo no limiar da vida, Walter Brito foi levado, por seus pais Arthur Correia de Brito e Maria Augusta de Lucena Brito, de Itabaiana, sua terra natal, à Campina Grande, cidade em que morou toda a vida, e lugar onde agora é sepultado definitivamente no alto da Serra da Borborema. Seu pai Arthur, desde sua infância, demonstrou-lhe ser um homem de ação: Fazia e consertava motores de energia, instalando rede elétrica pelo interior, antes da chegada da “luz de Paulo Afonso", gerada pela queda das águas do rio São Francisco, águas que, hoje, chegam à Serra da Borborema graças à Transposição do São Francisco. Walter, como uma espécie de gratidão,  costumava contar: “Meu pai iluminou muitas cidades por esse mundo afora”.
          Desde jovem, Walter carregava consigo corpo e alma de um incansável, dinâmico e alegre trabalhador. Juntou dinheiros, aplicando-os na compra de veículo ao transporte público; historicamente foi um dos principais pioneiros em transportar viajantes entre as cidades de Campina Grande, Itabaiana, Pilar e João Pessoa. Ainda hoje se destaca sua empresa Real. Quando eu morava em Pilar, eu o vi acomodando  passageiros numa marinete bela e bege, circundada por longas peças de madeira. Destinava-se ao Café do Vento, onde apanhava passageiros para a Capital. Foi numa dessas viagens, ao esperar fregueses no Ponto de Cem Reis, quando conheceu Cleonice; e desse casal nasceram quatro filhos e quatro filhas. Já quando residia em Itabaiana, tinha-se como atração seus ônibus fazendo a linha Campina Grande - Recife - Campina Grande; empresa de transporte abençoada pelo desenho de um livro branco e nas suas duas únicas páginas uma admoestação ou um conselho: "Leia a Bíblia".
          Considerava, como explicação do seu sucesso, ser Campina Grande a capital do empreendedorismo. Sua alegria era nos mostrar como Campina, já grande, tornava-se, a cada dia, ainda maior. Lembro-me do seu orgulho ao narrar que os primeiros carros franceses, chegados à Paraíba, foram para Campina, onde recebia os competentes cuidados de Zé Citröen. Foram 87 anos felizes fazendo que os outros também assim o fossem; registre-se que no seu velório havia inúmeros formados, alguns desses, pastores, que, quando estudantes, eram devedores das suas mensalidades escolares; então Walter Brito ia às suas escolas e indistintamente pagava essas dívidas. Do bom se extrai apenas o bom; por isso Walter falava uma expressão que lhe era peculiar: “É gente boa”. Sobre tais qualidades avaliava num piscar de olhos. Orgulhoso fiquei quando me distinguiu como sendo “gente muito boa”. Sua paixão por moto e carro fazia das várias marcas seu assunto predileto; ao ponto, de comparar gente de carne e osso com automóvel, daí seguiam as analogias: Se alguém lhe confidenciasse problemas de saúde, logo receitaria uma "revisão"; se um dos seus filhos ou netos estivesse a namorar quem não do seu agrado, logo se manifestaria: “Esse aí está a pé”. Morreu o bem sucedido empresário, piloto do seu avião e motorista dos nossos transportes, mas não o amigo Walter; ele continuará a viver, descendo e subindo entre as nuvens do céu para nos rever em Campina Grande, e de galáxia à galáxia, viajando na nossa  memória. 

 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 23/09/2017
Alterado em 01/10/2017


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