Rua sem número
Hei de pensar que o carteiro que não decora onde estão as casas da Av. Argemiro de Figueiredo não as encontra. Deve memorizá-las pelo muro, tamanho, cor, plantas, “depois de tal esquina” ou talvez “a trezentos metros após” algum dos canteiros, que, aqui e acolá, bifurcam a via pública para logo depois unificá-la. Não somente os carteiros, mas qualquer motobói que traga encomenda da pizzaria ou remédio da farmácia, zonzo, passa pelo mesmo vexame. Areados ficam, pra cima e pra baixo, também os taxistas. Quem fizer festa em casa haverá de distribuir um mapa, com os mínimos detalhes imobiliários e topográficos.
As casas ou edifícios dessa importante avenida do Bessa, embora em algumas informações com o nome de “Oceania”, não possuem número. Isto é, esqueçamos a lógica: tem e não tem. Os números são apenas figurativos, sem sequência crescente ou decrescente, sem finalidade no endereço que, em vez de endereçar, distancia; de nos levar ao destino, remete-nos a domicílios de estranhos, a ouvirmos desaforos de quem sai do seu sossego para atender a campainha, algum perdido na extensa rua, a procurar “onde mora Seu Zequinha ou Adonias”. E, de endereço no papel, mas cujos números nada valem; não nos remetem, na sequência usual das casas de outras ruas, ao número seguinte. O vizinho da casa 2010 é o da 1384, e o da 2511 é 1999. Marcos Toscano veio de Natal com o seu GPS e nele registrou o número da casa anfitriã: 2963, que fica logo após o primeiro canteiro, mas foi levado, corretamente, pelo GPS para muito depois do terceiro canteiro, após o Golfinho e o Clube dos Médicos. A casa que o hospedaria deveria ser a de número, mais ou menos, 733, caso a rua tivesse corretamente seus números...
Há muito tempo que assim é; desde que essa principal avenida se originou, seus moradores e visitantes sofrem com esse imbróglio. Poderíamos colocar nova numeração. Fácil: a primeira casa do lado esquerdo seria 0001, a segunda, 0003; a primeira do lado direito seria 0002, a segunda, 0004 e assim sucessivamente até o fim da Argemiro. Deixaríamos, ao lado do novo, o número antigo, durante três meses, para facilitar a transição. Mas, esta possível iniciativa civil ainda espera pela ação do poder público, responsável por tão desejada e necessária providência.
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 06/01/2010
Alterado em 19/12/2010