LIVROS E IDEIAS EM ALEXANDRIA
O homem comete incompreensíveis absurdos. Queimar pessoas e livros em fogueira marcou a humanidade de indeléveis pecados, violências sempre usadas para se tentarem incinerar ideias. O filme de Alejandro Amenábar , Ágora, da obra de Mateo Gil, emociona-nos com a destruição de uma das maravilhas do mundo, a Biblioteca de Alexandria, próxima à outra beleza, o Farol de Alexandria, que iluminavam e orientavam então internautas por vários tipos de céu e de mar.
Na lua nova do mês de “Muharram”, do vigésimo ano da Hégira, “o emir dos agareus”, general Amr Sbn al-As, conquistou a Alexandria e decidiu por fim à Biblioteca, construída por Ptolomeu Filadelfo, no início do III século a.C, cujas estantes viviam ricas de pergaminhos, “livros de todos os povos da terra”. Esta é a versão contra os árabes que haveriam combatido ideias escritas, não condizentes com o livro de Alá, o Corão. A versão contra os cristãos, em parte e trocando alguns nomes da primitiva Igreja, é narrada pelo filme Ágora, exibindo a filósofa e matemática Hipátia (Rachel Weisz), que lecionava astronomia nas dependências da Biblioteca. Mulher extraordinária, poucas assim naquela época de extremo domínio machista. Contra a bela Hipátia, concentram-se as perseguições. Morta a guardiã do acervo, desapareceriam os livros; calar-se-iam suas preleções e suas idéias; acabariam a Biblioteca “pagã e anticristã”, de ideias não condizentes com a Bíblia.
A história nos conta muitos incêndios sofridos pela Biblioteca de Alexandria; seus livros, ao contrário do que são, utilizados como fogo exterminador de ideias. Mas, livros e ideias nunca perderam suas energias. Palavras, páginas e livros reduzidos a pó, porém, o espírito das ideias sempre pairou acima da poeira das cinzas, porque ter ideia é coisa que flui de Deus. Queimam-se livros, e verifica-se, nessa malvada experiência, que as chamas sempre se originaram de fanáticos adeptos de um livro só, de radicais pertencentes a uma doutrina, seguidores de uma determinada ideologia religiosa ou política. Isto nunca ocorreria se a liberdade de pensar e poder expressar as ideias não sofresse tentativas violentas de interrupção. O filósofo Giordano Bruno (1548 – 1600) leu o “Corpus hermeticum”, morreu queimado vivo por afirmar, até o último suspiro, estar o sistema solar num Universo espacialmente infinito; não existir vida inteligente apenas na terra e reafirmar a noção da concordância dos opostos. Martirizou-se considerado herético sobretudo por dizer que, num mundo composto de “mônadas” ou átomos, Deus é imanente.
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 29/07/2010
Alterado em 30/07/2010