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A Primavera, Deusa das Estações
O inverno lava a natureza, preparando a casa para a primavera, quando desabrocham as flores nas montanhas, nas margens de rios e lagos; florindo planícies e encantando a todos com cravos, tulipas e rosas. Feliz é quem, como pássaro no céu, vê flora e fauna, reflorescendo-se de maravilhosas cores. O mestre de cinema, Akira Kurosawa, aficionado pelas cores da primavera, filmou fabulosas imagens do culto japonês às cerejeiras floreadas dos jardins dos seus sonhos. Há, como ele, quem se apaixone por essa fase da verde vida, como Assis Nogueira, lembrando os cronistas de que “estamos na primavera”. Certo ele, os inícios e reinícios das estações nos equivocam quanto às suas durações, modificadas silenciosamente pela discreta influência dos oceanos, cujas águas regulam o clima primaveril de uma temperatura mediana, nem fria nem quente, trazida por uma brisa suave, doce, amena e agradável, o que observou o poeta Verlaine: “Pois na primavera o ar é puro,/ tão puro como as rosas nascentes,/ que expressamente amor entreabre, têm hálitos quase inocentes”.
Tão boa e bela é a primavera que, para não se falar de anos, presenteia-se gratuitamente o aniversariante com a perfumada pergunta sobre sua idade: “Está fazendo quantas primaveras?” Essa bela estação não acontece simultaneamente em vários países, dando-nos a oportunidade, desde que viajemos à sua procura, de admirar sua beleza estendida a mais do que um semestre ajardinado. O hemisfério norte nos regala a “primavera boreal”, a partir dos meados de março até 21 de junho, vindo logo depois o intenso sol de verão, foi assim que experimentei os anos de estada em Roma e em Paris; o hemisfério sul, de 23 de setembro a 21 de dezembro, a nossa “primavera austral”, e, a seguir, chegam promessas e sinais das chuvas do frio inverno.
A primavera é um tempo profícuo às artes, rico de inspirações poéticas, como o caracteriza Casemiro de Abreu, em “Primaveras”, com temas lírico-românticos de amor à natureza, à nossa terra, aos belos tempos da infância, da adolescência e, como não poderia deixar de ser, no mundo dos jardins, à mulher amada. Deve ter sido a primavera a inspiração do italiano Antonio Vivaldi ao compor “As Quatro Estações” (Le Quattro Stagioni) e, mais ainda, do russo Igor Stravinsky ao criar “A Sagração da Primavera” (Le Sacre du Printemps). Também famosos pintores, a exemplo de Van Gogh e Sandro Boticelli, retrataram na tela coloridos vernais. Já que fomos alertados pelos que têm sentimentos e pela própria estação de que agora a primavera se inicia, aproveitemo-la. Afinal de contas, admoesta-nos o poeta e filósofo alemão Schiller de que “a primavera da vida floresce uma vez e nunca mais”.
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 14/09/2011
Alterado em 14/09/2011
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