Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos




Coragem de Ser Feliz
 
A grande força da filosofia grega, além da de
ser filosofia, foi a de tratar profunda e intensamente
do “ethos”, do hábito, dos costumes, ou seja, tratar,
com esmero, a ética, intuindo-lhe a finalidade da
ação, da práxis, na perfeição e na felicidade humanas.
Nada o homem e a mulher deveriam fazer sem o
desejo de fazê-lo de modo mais perfeito e, finalmente,
tornarem-se felizes com a obra em si. De modo que a
ação humana deveria, nos conceitos da Ética, perse-
guir esses caminhos fundamentais da perfeição e da
felicidade, que nos levam à plena realização pessoal.

Temos nos atribulado com um mundo de
antivalores que se desviou completamente desses
princípios. Apenas isoladas vozes nos alertam
da existência da ética, que, nos dias de hoje, sofre
progressivo menosprezo. Ouvem-se também
discursos, a título de Ética, especialmente políticos,
prometendo-nos coisas aparentemente agradáveis
ou sobre o que farão e o que não farão, mas nunca
sob os princípios de procurar o mais perfeito e o
mais feliz para o bem de todos. Sob esse aspecto,
basta-nos perguntar: qual objetivo os motivou para
serem homens públicos? Ou, quanto a nós, de modo
mais amplo: qual é a finalidade maior das nossas
profissões? De repente, talvez, escutar-se-ía que
seria “ganhar dinheiro”. Se assim o fosse, qual seria
o valor das ações generosamente gratuitas? Ora,
então, apenas ganhando dinheiro, sem os princípios
 éticos, citados anteriormente como causa da ação,
conseguir-se-ia o que se quer, sem se prestar algum
serviço ao outro, à comunidade e, consequente-
mente, a si mesmo. Na realidade, por isso se tem
corrompido a vida de quem “ganha” sem trabalhar;
“ganha”, furtando dos outros; “ganha”, praticando
injustiças sociais; “ganha”, subtraindo do erário
público; acha que “ganha” porque se satisfaz tão
somente com dinheiro e vantagens ilícitas. Seria
como o atleta “ganhar” a medalha de ouro, sem
ter corrido na pista e sido o mais veloz. Se o ouro
fosse a finalidade, bastaria a medalha adquirida no
comércio ou em qualquer lugar. E também para que
existir o atleta? Deste modo, demonstra-se que, sem
tais princípios e tais valores, a ação do homem se
esvazia e se corrompe. Não precisamos indagar as
razões da crescente prática da corrução.

Renunciar as satisfações dessa gula é difícil,
sobretudo para quem nasceu, cresceu e se “educou”
na da prática da ganância, de querer sempre ter,
mesmo sem necessidade de mais ter, mas sempre ter,
em substituição a que nos levaria a ser. Somente as
pessoas corajosas compreendem esses valores e valo-
rizam esses princípios. Afinal de contas, nós vivemos
para ser felizes. Mas, para sermos felizes, é preciso
termos coragem.
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 25/09/2011
Alterado em 25/09/2011


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras
http://www.drc.recantodasletras.com.br/index.php