|
Academia, aniversário e imortalidade
A Academia Paraibana de Letras aniversaria. Segundo a feliz crônica do acadêmico Carlos Aranha, ela é “setentona”. Apenas com esta idade emblemática, 70 anos, a aniversariante chama seus quarenta membros de imortais, ela própria que deveria dispensar idades, não se interessando mais pelo tempo, sendo criadora e criatura dessa imortalidade. Os acadêmicos, talvez não convencidos dessa perenidade, comemoram aniversários, promovendo festa, com entusiasmo e cânticos pela septuagésima vez, na Casa Coriolano de Medeiros. Festa longa, de vários dias, em vários meses, excedendo até o tempo do ano em vigor.
Quando eles completam anos, são mais discretos. Afinal de contas, tendo sangue nas veias e coração, batendo para trabalhar tique-taque como relógio, mesmo chamados de imortais, cismam. O aniversário da APL tem sido oportunidade para relembrar a memória dos que já se foram, esses sim, gozam da ida eterna e carregam consigo a pura imortalidade porque a mortalidade já ocorreu... Tanto é assim que a Comissão Editorial, responsável por editar o Nº 24 da Revista da APL e lançá-la solenemente na sessão do dia do aniversário, 14 de setembro, escreveu um capítulo intitulado de “Nossos Mortos”.
A imortalidade que a Academia de Letras concede aos seus membros, antes de tudo, decorre do compromisso desses integrantes invocarem os seus antecessores à posteridade. É também assim que eles renascem e são imortais. Ecce immortalitas! A imortalidade ainda se mostra proporcional a que se chega escrever em vida de estimável literatura que se imortalize, através do interesse dos leitores. Essa imortalidade é pouca em vida; cresce, talvez, depois da morte, secundando-se conforme a memória das obras e a lembrança dos valores na pessoa do autor. Se assim é o tempo da imortalidade, esta mesma nos priva, depois da morte, da liberdade de mudanças, segundo Sartre, comparados a prisioneiros da escuridão sem luz e “limitados num quarto sem porta e sem janela”. Outro imortal, Rainer Maria Rilke, nos fala que “O tempo não é uma medida. Um ano não conta, dez anos não representam nada (...). Ser artista não significa contar, mas crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa não vir. O verão há de vir. Mas só virá para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se tivessem à frente a eternidade.” Noutro sentido, ao comemorarmos 70 anos da nossa Academia de Letras, setenta anos contam, representam nossa cultura, sobrevivendo às futuras estações e belas primaveras.
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 02/10/2011
|
|