A Saúde Obriga
Quando se perde o bom sentido das coisas, perde-se o norte do caminho; quando se perde o caminho, talvez se encontrem as coisas por acaso. Embora não se possa ser radical quanto a esse assunto, como Sócrates ao criticar os sofistas que cobravam pelas suas aulas de retórica, deve se buscar o equilíbrio, a isso algumas coisas nos obrigam. E por isso, principalmente duas prestações de serviço que não podem ser unicamente em função do lucro: a educação e a saúde. O sentido da primeira é educar; o da segunda, curar. A educação foi tomada pela ideologia do lucro a partir do momento em que se pagou mal ao professor, nunca por causa do docente cobrar caro pelos seus serviços. Hoje, a teoria de que a humanidade se tornará um grande mercado e de que o “coaching” se estenderá a todas as áreas da vida ganham escolas e igrejas. Essa corrida sinaliza involução, não nos entusiasma acreditar que todos os bons sentimentos humanos, até templos sagrados, resultassem unicamente nas ações de troca, de compra e venda ou num grande mercado.
A educação tem sido sujeito e objeto dessa onda, em institutos e faculdades, das tesourarias escolares à grade curricular, em todos os níveis, sobretudo na pós-graduação, pratica-se o “coaching”, prega-se o “coaching”. Jack Welch, da GE, garante que,“no futuro, todos os líderes serão “coaches”. Quem não desenvolver essa habilidade será descartado do mercado”. E como o mundo será, segundo Jack, um mercado, significa que seremos “descartados” desse mundo. É o radical “neoliberalismo” do consentimento “livre e esclarecido” para se seguirem apenas interesses e valores de mercado, e, a qualquer custo, na competividade, não para ganhar produção, mas rentabilidade. Haverá duas categorias de gente: “profissionais e clientes”.
Esse “tsunami” atingiu a área da saúde, no momento em que se exigiu, antes do bisturi, o cheque, repassando casos de urgência do dilema “viver ou morrer” para o de “pagar ou morrer”. Nesse sofrimento, deparamo-nos com essa extrema violência aos que não possuem cheque ou poder aquisitivo para isso. Somente a educação pública e gratuita, dever constitucional do Estado, e, no caso, a saúde pública levariam esses vexames para uma situação de equilíbrio entre os serviços públicos e particulares, cuidando, por obrigação, dos carentes de recursos através da educação gratuita aos filhos e da saúde às suas famílias. No entanto, observamos, com tristeza, a entrega desses serviços essenciais a instituições particulares, também a título de terceirização. Tudo não passa do presságio dito por Jack Welch ou da “satanização” da coisa pública para metamorfosear o que é público no que é privado. Se for “cada um por si“ nesse grande mercado, perguntar-nos-emos: Para que Estado? Para que Governo?