A Primavera, Mulher das Estações
Vinicius de Moraes, ao convidar-nos para olhar a “coisa mais linda, mais cheia de graça (...) a caminho do mar”, poderia haver se inspirado nela, a primavera, a única estação feminina em companhia do verão, do outono e do inverno. Na França, ouvi chamá-la de “Le printemps”, no masculino, e duvidei terem cometido equívoco naquelas culturas dos gêneros masculino, feminino e neutro. Tanto aqui como lá, “Le printemps” não nega ser tão mulher como a prima Vera; avaliemos o jeito de como ela aparece lá e alhures: veste-se de cores como o arco-íris; orna-se de flores adolescentes, e é a estação do ano que, igual a um jardim, mais naturalmente se perfuma e exala aromas para prazerosas e perfumadas essências.
O outono é vento esvoaçante das folhas mortas; o inverno, portador de água, neve e frio; o verão, cheio de luz e energia, esquenta-nos com o sol; somente a primavera é totalmente beleza e doce brisa, tempo e espaço dos amantes que, casados ou enamorados, aguardam, como a terra cantada por Milton Nascimento, o cio das estações, quando as flores dão néctar às abelhas e aos beija-flores, abrindo-se e fazendo amor, fertilizam-se com promessas de frutos.
A professora ensinou às crianças que, nesse 22 de setembro, a primavera se iniciou no Brasil. Atribuímos belos significados à primavera, oxalá se iniciem também com essa de agora outras promissoras primaveras, tais quais benéficas ventanias despojando árvores das folhas amareladas, como retirando roupas de frio, devolvendo-nos ao esplendor do sol e à sensação de que, nus como a natureza, sintamo-nos gozadores de maior liberdade. Não é por menos que, ao sairmos das sufocantes opressões política ou social, dizemos que reconquistamos nova primavera. Nesse sentido, bom seria que sempre acontecesse primavera nas quatro estações do ano, em todas as terras, em todos os corações. Festejar a primavera é escutar os pássaros cantando, em harmonia com as pedras, com a natureza nos verdes e floridos prados. O comboio seguirá em frente, mas quem perder de vivenciar essa estação primaveril deverá refletir que a vida é uma estação atrás da outra e que não vale a pena perder sequer uma primavera. Em tempos mais sublimes, Friedrich Schiller (1759 – 1805) poetizou: “Des Lebens Mai blüht einmal und nicht wieder”, o que seria por aqui: “A primavera da vida floresce uma vez e nunca mais”.
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 20/09/2012
Alterado em 20/09/2012