Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


 
Por que pintar o céu?
 
          A criança perguntou à mãe com que cor deveria pintar o céu. Suas miúdas mãos seguravam lápis de diversas cores, inclusive o amarelo com que expandiu o sol sobre as nuvens, no firmamento. Sem hesitação, iniciou a pintura; diferentemente dos adultos, as crianças não hesitam riscar qualquer coisa, riscam por prazer até parede novinha, recém-pintada. Mas insistiu: - Com qual cor pinto o céu? A mãe respondeu-lhe o óbvio: - Com as cores do céu.  As crianças dão prodigiosas definições circulares, mas não lhes agradam respostas redundantes sobre o como ou o porquê das coisas. Na sua visão do predominante, corrigiu a mãe, dizendo que o céu só tinha uma cor. A mãe apontou-lhe as nuvens. Então, ela externou uma explicação nunca antes ouvida: as nuvens eram brancas porque não tinham sido pintadas. Lembrei-me do disco de Isaac Newton, no Colégio N.S. da Conceição de Itabaiana; a Irmã Lenice rodava o disco com todas as cores, e elas, como mágica, sumiam no branco. Assim são as cores do arco-íris, saem apenas de uma gota d’água... 
 
          Havia muitos desenhos em branco no livro da pequena estudante. Tais tarefas escolares trazem da escola para casa a maior obrigação, depois do carinho e do sustento, que os pais devem aos filhos. Em razão da jornada de trabalho ou por não terem tempo e escolaridade para ensinar, esses pais carecem ser substituídos pela “escola de tempo integral”, para que se evitem reprovações e baixo índice no rendimento escolar.
 
          Mais de um candidato à prefeitura prometeu isso com o nome de “ensino integral”, o que também proporcionaria reforço escolar, melhoria significativa da aprendizagem, transmissão dos nossos valores culturais, guarda e lazer sadio às crianças, implementação dos programas constitucionais “complementares da educação” como os de alimentação e saúde. Há países, como observei na França, que valorizam, na teoria e na prática, a educação: cuidam dos seus alunos integralmente; dão-lhes não somente as cores para pintarem o céu, mas, em termos educacionais, um céu de escola. Com que cor pintariam esses prefeitos os céus das nossas escolas? Duvidam que, depois de eleitos, abandonariam “o ensino integral” e logo alegariam que esses céus estariam limpos, sem necessidade de pintura, deixando as crianças da cidade sem “ensino integral”, com seus “deveres de casa” por fazer; com lápis e papel na mão, em céus incolores e nuvens vazias...
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 27/09/2012


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