Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


Por que engrinaldam a mulher?
       
       Não sei quem mais simboliza o amor, a flor do perfume ou o perfume da flor. O que se sabe é que, em todos os tempos e em todas as culturas, mesmo quando o romantismo, o lirismo sofreram desânimo por causa dos costumes, flores e amores ou amores e flores sempre rimaram nos versos dos poetas e nas estrofes sedutoras da poesia. Em todos os tempos, sim, podem ter perecido algumas flores, terem se acabado alguns amores, mas nunca o casamento da flor e do amor. 
 
       Na Grécia, diziam os poetas que a divindade do amor, Eros, distanciava-se das flores murchas; vivia nos jardins aonde atraía corações apaixonados que mascavam pétalas com seus fluidos enérgicos ou também com unguentos, porções, doces, geleias ou chás dessas flores. Já na Pérsia, acreditava-se que, entre flores dos jardins, se captavam mutações cósmicas do amor, daí felizes os amantes que se deitassem em tapetes floridos para desfrutarem seus desejos. No Japão, da sabedoria oriental, as gueixas ensinam a arte do “ikebana”, arranjam flores para alegrarem a vista e estimularem os sentidos dos amantes. 
 
      Em romances de lugares e tempos diferentes, fazia-se mistura de flor com amor: Heloísa forrava, com flores do campo, o chão para esperar seu amado Abelardo. Assim procedia também o cavalheiro do Rei Arthur, Lancelot, derramando pétalas onde se deitaria sua amada, a rainha Egreine. Muito antes da Igreja, os ritos pagãos adornavam com flores aqueles que se entregariam aos prazeres da carne. E por que engrinaldam de flores as noivas das capelinhas ou catedrais? Essas flores, sinais do amor, depois de marcarem presença nas orgias, saíram das igrejas às ruas para também servirem como símbolos de “paz e amor” em protestos contra a guerra; nas manifestações “hippies” durante o período da revolução sexual, apostando-se no “Flower Power” (Poder da Flor) para a conquista de novos tempos na cultura, novas possibilidades e formas de amor. Machado de Assis, nos versos de “A Carolina”, lembra-nos como as flores são usadas para expressarem muitos sentimentos: “Trago-te flores, restos arrancados / Da terra que nos viu passar unidos / E ora mortos nos deixa e separados“. Haja poder à flor! Se na Divina Comédia, de Dante, “(...) o amor, que move o sol, como as estrelas” é movido pela flor, então a flor move sonhos, signos e astros...
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 12/10/2012
Alterado em 13/10/2012


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