O Violoncelo de Francisco Antonio
Professor Francisco Antonio Cavalcanti sempre se dedicou à docência de assuntos áridos, de pouca emoção, como administração, planejamento estratégico, gestão de tecnologia e engenharia de produção. Com tardança, mas, de repente, revela-se no mundo das letras; faz a proeza de transformar ciências humanas em mais exatas, e as exatas, em mais humanas, ao escrever a elogiável obra: O Violoncelo - Uma trajetória de acasos e mistério.
O prefácio do exímio violinista Rucker Bezerra de Queiroz, ao ser “spalla” em qualquer orquestra, é a primeira palavra nessa harmoniosa obra... Ao definir circunstância como conjunção do tempo com o espaço, do agora com o aqui, das ideias escritas com as de todos nós, ressalto que toda circunstância conta com a presença do homem, de modo marcante, significativo e até determinante, dando-nos a entender que nos priva da liberdade, de outras opções, o que seria possível somente em outras circunstâncias... De modo que cada circunstância se faz situacional e conjuntural, tendo a força, como a que escrevi na expressão em um dos meus textos ainda inédito: ela, mesmo renitente, dobrou-se às circunstâncias; e também em Ortega y Gasset, filosofando “circunstancialismo”: “O homem é o homem e a sua circunstância”.
O livro de trajetórias de acasos e mistério é uma soma de circunstâncias num atrativo enredo de fatos encadeados que brilhantemente o autor reuniu e os relacionou um ao outro, na obra O Violoncelo. São circunstâncias que acontecem numa estreita e curiosa relação com esse instrumento musical e as pessoas que o idealizaram, usaram-no, venderam-no, compraram-no, exibiram-no nos mais sofisticados concertos, transportaram-no a diferentes países em variados continentes, leiloaram-no, perderam-no, mas reencontraram-no, cada vez mais com maior valor de preço e apreço. Essas coisas, pessoas e fatos circunstancialmente chegaram a Francisco; outras ele pesquisou, complemetando-as com a ficção e dando a elas admirável correlação e um fim surpreendente. Assim são os bons escritores, completam a realidade, de modo criativo e inventivo, com a beleza fictícia que falta ao que é real. Não ignoro que há circunstâncias que acontecem espontaneamente; outras são procuradas, ensejando a realização dos nossos sonhos, desejos e interesses. Talvez a fantástica história desse violoncelo nos induza acreditar na predestinação ou em que as coisas acontecem por acontecer. Certo de que inexiste determinismo. Contudo, a experiência popular fala que, “quando tem que acontecer, acontece”, mas só se coexistirmos com aquela adequada circunstância...
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 15/12/2012
Alterado em 15/12/2012