Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


Dorgival Terceiro Neto
 
           Amou muito a terra que lhe serviu de berço, mas, ainda jovem, procurou conhecer outras plagas distantes da estrada que passava pela sua amada Taperoá que seu primo Ariano Suassuna, ao prefaciar seu livro, “Taperoá – crônica para a sua história”, neologismou de “mátria”, “nossa mátria”, no lugar de pátria... Qual impulso motivou Dorgival deixar o conforto familiar para enfrentar o desconhecido? A busca do sentido da vida nos leva, como errantes, a muitas estradas... Dorgival buscou coisas, fatos, pessoas, livros, ciências, artes e, no seu silêncio indagativo, parecia insatisfeito, achando mais perguntas do que respostas. Incansável nessa incessante busca, Dorgival reclamava, dias atrás, a diminuição das suas forças, dos seus sentidos, despedindo-se, mas tendo, pela sua aguça experiência de vida, tudo compreendido.

          Conheci Dorgival em 1971, na Rádio Arapuan da Almirante Barroso.  Lá, atraídos pelo largo sorriso de Otinaldo Lourenço, acontecia o encontro de amigos que encheriam a noite de conversas na Churrascaria Bambu da Lagoa. Dorgival era o último a chegar; cigarro preso pelos dentes, no lado esquerdo da boca; paletó no braço direito e a gravata desatada em torno do pescoço; enchíamos a sala de informações, opiniões e ideias ou comentários sobre coisas e gente da cidade... Eu chegava da Faculdade de Guarabira, hoje UEPB, criada pelo Padre José Paulino, que, com nossa ajuda, iniciou o ensino superior no interior do Estado... E o prefeito Dorgival, ao entregar ao IPÊ quatro Faculdades municipais à Fundação IPÊ, contribuiu com a iniciativa de Manuel Batista de criar a Autônoma, hoje, o Centro de Ensino Unipê.
  
          Militou como advogado cinquenta anos; por maior tempo, um protótipo jornalista; também preparado professor de Direito; político exemplar enquanto prefeito de João Pessoa, Vice - Governador e Governador do Estado; e, por fim, imortal de notável intelectualidade da Academia Paraibana de Letras. Mas, sua simplicidade o conservava o mesmo Dorgival... Combateu, como diz o apóstolo Paulo, o “bom combate”; mesmo decepcionado com tantas corrupções, guardou a fé, arma que lhe pedia o coração. Ao vê-lo, imaginei Dorgival viva personagem de Ariano Suassuna: cavalheiro andante, numa discreta montaria de Taperoá, assim lutava Dorgival...   Hoje, ainda montado, já no mundo de paz, voltando vitorioso do combate, olha-nos nesse mundo convulsionado. Sem necessitar de batalhar aqui, que seu bom combate venha para dentro de nós, já que matamos nossos sonhos e nossa memória, quando não combatemos o “bom combate”.

 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 19/07/2013
Alterado em 20/07/2013


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