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Gostar de dinheiro afeta relações
Não tolero escutar de homem pobre que “mulher só gosta de dinheiro”, quando ele próprio se diz bem casado. Essa generalização idiota repete que amor não existe, que não acontece casamento sem interesse e conta várias histórias, cuja moral redunda no mesmo jargão. Numa mesma roda de conversa, reconta a do pobre homem que, depois de “tirar na loteria”, arrumou, de repente, várias candidatas a casamento e exatamente aquelas, “metidas à coisa”, que nunca deram bolas para ele. O esquisito é sua mulher, não fazendo exigências como a Amélia do samba, suportar tais conversas de um marido que mantém a casa na pobreza franciscana, vida que ela nunca reclamou.
Não sei se devo classificá-lo de machista. Aliás, também mulheres falam exatamente assim sobre a “maioria dos homens”; reclamam que eles se interessam tanto pelo dinheiro e seus negócios até esquecer a mulher, os filhos e a casa. E então, essa atração demasiada pelo vil metal decorreria do gênero, do DNA, da educação, do meio familiar ou de uma herdada avareza?
Esse tema, às vezes tido como jocoso, causa sérias patologias sociais, como a daquele que idolatra o dinheiro, geralmente tornando-se corruptor ou corrompido. Existe vasta literatura sobre a relação afetada do homem com a mulher por causa da cobiça, estereotipando-se uma sórdida injustiça contra a mulher, talvez apenas vítima do patriarcalismo que condenava a mulher à gravidez e à dedicação à prole, mantendo-a dependente, afastada do mercado de trabalho e assim estimulada a pedir dinheiro ao marido, substituindo o trabalho pela mesada, pelo conforto, enfim, pelo ouro ou pelas joias para se enfeitar. Nesse sentido, em Otelo, de Shakespeare, o drama do mouro duvidando da amada Desdêmona deixa concluir que mulheres não apreciam machos “fracos, medrosos e pobres”, qualidades que os inferiorizariam, se comparados com poucos “fortes, corajosos e ricos”. Sendo o dinheiro objeto e causa da questão, trata-se de um assunto corrente na vida social, sexual e afetiva do convívio humano. Infelizmente muitos homens gostam demasiadamente de dinheiro e acusam as mulheres disso e por causa disso... Bom seria que as fêmeas dessem a esses machos mais sensibilidade; e, os machos, quem sabe, às fêmeas. Sem a idolatria do dinheiro, aconteceria o poderoso desejo de reumanizar as relações entre homens e mulheres; e propagar-se-ia que a mulher que ama não considera o dinheiro acima de tudo.
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 07/03/2014
Alterado em 08/03/2014
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