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Ora dentro, ora fora da cidade...
O título é como o nome do leitor, denomina o livro, podendo devir quase apelidação do autor, como é caso dessa obra de Abelardo Jurema. Inicia bem, antes de enveredarmos para o seu interior. “Na janela da cidade” é intitulação que impressiona, propicia imagens e inspira a belíssima capa, arte de Marcelo Jurema. Original, porque há cidades com portas, Roma, Paris, mas com janela, quem já viu? Somente no livro do imaginativo Abelardo, demonstrando bom gosto por fortes metáforas. “Na janela da cidade” significa o autor dentro da cidade; seus leitores sabem disso através da sua Coluna, informando-nos o quotidiano, de uma maneira discreta, suave e inteligente; ele conhece a cidade e habitantes como ninguém: reproduções, nascenças, alimentações, crescimentos, movimentos, enfim, saúde e até tristeza quando, em alguém, todas essas características de quem vive terminam...
De tanto escrever o dia a dia e no dia a dia, redige como andasse de bicicleta pelas calçadas da inesquecível Rua Cesário Alvim, o que nos relata na crônica “A bicicleta”. Disso todos sabem: primeiramente a determinação de andar de bicicleta; depois, praticar ciclismo trazem impressionantes habilidades de equilíbrio em apenas duas rodas, quadro e guidom. Assim, Abelardo se aperfeiçoou, indo além das notas, das notícias, inclinando-se para a crônica, terreno em que, nesta obra, revela seu domínio. “Na janela da cidade” também significa que Abelardo, debruçado na janela, vê o que acontece fora da cidade, observando a história que caminha nas outras urbes, vizinhas e distantes, no mundo, também com seus problemas, soluções, tristezas e alegrias. Quando nos compara com outras gentes, mostra saber o que é “weltanschauung”, olhando o interior da janela, mas, fora dela, respeitando o relativismo das culturas.
Os textos na “Janela da cidade” são de agradável leitura, como bem diz o próprio Abelardo: o autor “anotou, registrou e documentou tudo, com verdade, amor e emoção.” É uma obra eclética que se divide em capítulos que se seletam à escolha, caso o leitor não quiser a convidativa leitura “de um fôlego só”, contudo, percebendo a excelente adequação do título à obra; sim, o título deste livro se tornará apelidação do autor. Nada a estranhar, a obra se identifica com quem a escreve, confundem autor com obra. Assim, escuto por aí: Dostoiévski, de Crime e Castigo; o Eu, de Augusto dos Anjos; Tolstoi, de Guerra e Paz ou A Bagaceira, de José Américo.
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 11/04/2014
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