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Joffily, sempre José Joffily
As motivações do querer bem são muitas e relativas, variam em intensidade e qualidade. Querer bem a uma coisa pode significar amar coisas materiais; porém, tudo ganha outro sentido quando se quer bem às coisas que têm vida, como à natureza, aos animais e, na elevação desse sentimento, às pessoas. Para não parecer atitude materialista, ao se querer bem a uma pessoa, essa ação sublime requer que, entre o querente e o querido, não haja interesse outro, ao não ser o de fazer o bem a quem se quer bem.
Ainda jovem conheci José Joffily sempre querendo bem aos desprotegidos, a gente sem nome; assim se projetou como político na nossa terra: inteligente, dinâmico, progressista, honesto, coerente com sua ideologia altruística, dedicado a fazer o bem a quem mais disso necessitava. E contra tais ideais foi obrigado a não realizar o bem entre nós; impuseram-lhe a impossibilidade física e intelectual de continuar trabalhando na sua pátria, a Paraíba, onde lhe surgiram contínua perseguição, ameaças de prisão, enfim prisão e, depois, exílio. Este nordestino exilou-se numa cidade do sul, recôndita para seus amigos, distante, aonde quase não iam seus conterrâneos, apenas alguns amigos, como Assis Lemos, assim como ele, também exilados.
Quando essas perseguições e hostilidades se abrandaram, José Joffily, respirando ares de democracia, sentindo que algo de novo estava por acontecer, começou a vir à Paraíba para nos dar essas boas novas, conversar com os que pensavam como ele, com os que desejavam que as riquezas não se resumissem às mãos de poucos, mas se distribuíssem também às casas de muitos. A essas reuniões, acontecidas publicamente no restaurante do então Hotel Tropicana, sempre fui levado pelo grande dileto amigo e seu sobrinho, Padre Marcos Augusto Trindade, o que Joffily exigia e agradecia. Lembro-me que Agildo Barata, comunista vigilante e precatado, à vontade apenas entre os do seu partido, protestou, sem cerimônia, contra “determinadas presenças” de estranhos, considerados por ele desconhecidos. De pronto, sorrindo retruquei: Acho que Barata se refere a mim... José Joffily, líder afeito à convivência com pessoas de várias tendências ou partidos, suspendeu minhas palavras: “Barata, meus convidados são iguais a você”, então Barata balbuciou: Seja bem-vindo! Por essas e outras motivações, há cem anos, queremos bem ao imortal José Joffily; por isso, nesse dia 27 de junho, quando a Academia Paraibana de Letras comemora o centenário desse imortal acadêmico, Gonzaga Rodrigues discursou, também dizendo que Joffily sempre será José Joffily...
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 31/05/2014
Alterado em 01/06/2014
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