Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


  As flores e os enamorados
 
      
          Talvez o que mais simboliza o amor é a flor. O que assim, a flor do perfume ou o perfume da flor? O que se sabe é que, em todos os tempos, em todas as culturas, nos períodos de seca, mesmo quando o romantismo, o lirismo sofreram desânimo por causa dos costumes, flores e amores ou amores e flores sempre rimaram nos versos dos poetas, nas estrofes sedutoras da poesia. Que me confirme o poeta amigo Sérgio de Castro Pinto: Em todos os tempos, sim,  pereceram  algumas flores,  desvaneceram-se  alguns amores, mas nunca o casamento entre a flor e o amor.
          Na Grécia, já poetizavam a divindade do amor: Eros, que se distanciava das flores murchas, vivia  nos jardins aonde atraía corações apaixonados para mascarem pétalas com fluidos enérgicos ou também com unguentos, porções, doces, geleias ou chás dessas flores. Disso sabia Augusto dos Anjos: “Porque o amor, tal como eu o estou amando, / É espírito, é éter, é substância fluida”. Já na Pérsia, acreditava-se que, nos jardins, captavam-se mutações cósmicas do amor e felizes os amantes que se deitassem em tapetes floridos para desfrutarem intensos desejos. No Japão, da sabedoria oriental, as gueixas ensinam a arte do “ikebana”: Arranjam flores para alegrarem os sentidos dos amantes.
          Em romances de diferentes lugares, misturava-se flor com amor: Heloísa tecia, no chão, tapete de flores do campo para esperar o amado Abelardo; como procedia também Lancelot, ao forrar de pétalas o leito da amada rainha Guinevere. Muito antes da Igreja, os ritos pagãos adornavam com flores os que se entregariam aos prazeres da carne, assim também engrinaldam de flores as noivas das capelinhas ou catedrais.  As flores, sinais do amor iniciados nas orgias, saíram das igrejas às ruas para também servirem como símbolos de “paz e amor” em protestos contra a guerra; nas manifestações “hippies” da Revolução Sexual, apostando-se no  Poder da Flor (Flower Power) para renovação da cultura e conquista de novas possibilidades de amor. Machado de Assis, nos versos de “A Carolina”, lembra a flor usada para expressar sentimentos: “Trago-te flores, restos arrancados / Da terra que nos viu passar unidos / E ora mortos nos deixa e separados“. Se na Divina Comédia, de Dante, “(...) o amor, que move o sol, como as estrelas” é também movido pela flor, então haja flores que movem sonhos e enamorados...

 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 08/06/2014
Alterado em 08/06/2014


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