Utopia do bom político
Os exegetas hão de confirmar que a criação do mundo, aquela no Gênesis, diferencia-se das escritas pelos evolucionistas, até mesmo pelo jesuíta, da ordem do Papa Francisco, teólogo francês, filósofo e paleontólogo Pierre Teilhard de Chardin. Contudo, em todas essas teorias, Deus teria agido, porém não criado uma cidade para o homem e para a mulher. Na ação divina, mesmo nas impercebíveis, há sempre uma mensagem: Deus criou um jardim para o homem e a mulher admirarem as flores e as flores para exalarem perfume e beleza. Ou criou, nesse jardim, um pomar de peras, abacaxis, pêssegos, jacas, uvas, mangas e laranjas para suas criaturas usufruírem o prazer de comê-las. Nesses sete dias, não fez o economista, o comerciante, nem tampouco o político; criou o jardineiro e, para o pomar, o agricultor: profissões sagradas. Por isso, quando se assassina um agricultor, como Pedro Teixeira, ou uma agricultora, como Margarida Alves, mata-se a natureza três vezes: as criaturas, as flores e os frutos. Mas, nunca as sementes...
Os homens, expulsos desse jardim, criaram a cidade, a “polis”, e para dirigi-la, fizeram-se políticos, estereotipando-se sucessivamente nos filhos, netos, bisnetos, e na sua geração, a transformar essa função em profissão, em herança, daí o pecado... Ser político é vocação, além de cidadão da “civitas”, é servir à “polis”, à organização e à felicidade do povo. Hoje, inverte-se: o político “se arruma”, ao fazer da política seu meio de vida, procurando seu bem estar, e não, o bem comum. O político deveria ser como o jardineiro ou o agricultor da cidade, fazendo da política uma plantação da “arte aplicada às coisas públicas”. Assim nasceriam outras coisas boas, uma cidade organizada, verde e feliz. Seriam os políticos, segundo Platão, “possuidores do nada”, sem cobiça, para cuidar dos bens coletivos.
Utopia? O bom político, como Thomas Morus, precisa de utopia, é ela o seu dínamo e o motor do bem comum... Com dedicação e tempo para isso; quem pensa somente em si não tem tempo para trabalhar para os outros. Eis o perfil do bom político para eleição. Hoje, essas qualidades parecem utópicas. Mas, aqui e acolá, aparecem boas intenções e alguém tentando ser jardineiro ou agricultor para plantar na cidade, como ela fosse um belo e feliz jardim. Utopia? Sim! Um jardim precisa de utopia/ De pássaros/ Flores e borboletas/ Suportar alguma dor/ Fantasiar a felicidade/ E doçura às abelhas...
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 11/09/2014