O escritor, esse mágico...
Escrever exige mais magia do que ler; em ambas ações acontecem mágicas, muito além daquelas transformações que já vi no circo: O mágico fazer de um coelho ovos de galinha e dos ovos, cartas de baralho. Observava que tudo girava em torno das compridas mangas e da elegante e longa cartola do ilusionista . Notava-se que o segredo das transformações se escondia no alisar da sua casaca e ao nos cumprimentar com a cartola. Menos "seu" Alegria que nos hipnotizava à luz do sol, na Praça do Coreto de Itabaiana: Ao balançar a árvore, folhas secas caíam iguais a notas de 100 sobre as quais a meninada se amontoava no chão, querendo agarrar cédulas de dinheiro. Mas , quando as retirava do bolso eram apenas folhas do velho cajueiro...
O escritor treina com um lápis e um papel. Depois de "ensaios e erros", usando a borracha, ganha coragem para apresentar sua mágica ao público. Uns se agradam com o que lêem; outros não encontram no texto algum interesse. Contudo, somente o escritor, esse mágico, sabe o que lhe custou para subir ao picadeiro e exibir-se à plateia, transformando carne e sangue em palavras, oferecendo-se em ideias, em imagens para ser degustado e digerido pelo leitor. As palavras são comidas, como pipocas, compulsiva e sequencialmente em sentenças, de quem oferece aos leitores partes de si mesmo. Contudo, há os que ,indiferentes, rejeitam o prato à mesa. Negam-se comungar com o escritor o que, no solitário sacrifício, ele escreve. "Seu"Alegria nos iludia quando transformava a simplicidade das folhas secas na luxúria do dinheiro; porém, o dom da escrita é uma mágica que não nos engana: Ao aparecer magia numa folha em branco, acreditamos nas "segundas intenções" do escritor, conforme sua clareza e beleza nas primeiras...
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 14/11/2015
Alterado em 14/11/2015