Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


                                 Odiar, não odiar e amar

          Qualquer sensatez percebe interesses cultivando ódio político no nosso país. Analise-se a mídia; interpretem-se as "notícias", as reportagens, as aulas, os sermões, as conversas, as generalizações, as piadas, as mentiras; faça-se uma "leitura de conteúdo" do que politicamente fomenta o ódio. E logo se distinguem cizânias dividindo tudo em dois lados: O bem e o mal; o azul e o encarnado do pastoril; o rancor maniqueísta como se existissem, em tantas partes e partidários, apenas duas realidades: Favoráveis e contrários ou odientos e odiados.
         Essa gritaria traz de volta militâncias irascíveis da época da "internacional comunista", do fascismo, do nazismo, do macarthismo, da "guerra fria", dos idos de 1964, quando opinar sobre "reforma agrária" a um país de latifúndios improdutivos imprimia o estereótipo de "subversivo": Carimbo à perseguição,  à prisão, à perda do emprego e à exclusão do mundo do trabalho; a cruz dos cristãos para distingui-los dos mouros na Cruzada medieval. Ariano Suassuna é taxativo: "É muito difícil você vencer a injustiça secular que dilacera o Brasil em dois países distintos: O país dos privilegiados e o país dos despossuídos".
          Galileu Galilei foi genial: "Quando alguém menos entende, mais quer discordar". Fruto disso, recebi mensagem, de gente "esclarecida", insinuando que o autor da famosa obra "O Capital", Karl Marx, foi apenas "um vagabundo, sustentado pela mulher", o que alimenta o machismo de se aceitar  a "mulher sustentada pelo homem". Divergindo, esse livro, então jogado à fogueira do index prohibitorum, argumenta que trabalhadoras e trabalhadores, sem discriminação, têm o direito elementar de trabalhar para seu sustento, sem serem apenas "exército de reserva" no mercado de mão de obra para manutenção dos baixos salários e dos altíssimos lucros. Também as encíclicas doutrinam contra esse resguardo ao desemprego. No final da dita mensagem, o seu maior conteúdo: "Não quebre a corrente, passe adiante"... Submetendo tais interesses ao crivo do racional, sinto, comparo e discirno: Odiar é mais fácil do que não odiar e, respeitando-se as diferenças, o mais difícil é amar.

 
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 07/10/2016
Alterado em 07/10/2016


Comentários
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ilza
O escárnio político que impera no Brasil, hoje de uma forma gritante, nos impele a esquecer o racional e pensar movido por paixões políticas passageiras sem conteúdo algum. Estamos virando meros espectadores de uma cena a se protagonizar.
N
Neide Maria Santos Neve
Muito boa crônica. Acredito que o amor supera o ódio em todas as instâncias. Talvez, se políticos e encantados com política,agissem ou,direcionassem o nosso país, sem tanto ódio, estivéssemos num pantamar de uma política mais consistente e melhor para nosso país.Agindo com amor tudo torna-se mais sensato.
I
Italo Fucelli
Embora não seja marxista, devemos respeitar O Capital como uma laboriosa obra. Na verdade, quem discorda das suas ideias não deve menosprezar o autor para tentar diminuir a obra. Italo Fucelli - São Paulo SP
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Marilene Cavalcanti
Sofremos pela falta de amor nesse mundo contaminado pelo ódio.Esse texto veio instingar grande polêmica vivida na história do nosso país."Quando alguém menos entende,mais quer discordar." Bravo mestre!
O
Otília Barbosa
Embora trate de assunto polêmico, mas o respeito que se deve à outra de Karl Marx é o ponto alto da sua crônica, assunto sobre que você escreve com muita propriedade. Parabéns! Otília Barbosa - Rio de Janeiro RJ

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