Fiéis traidores ou traidores infiéis
Ninguém é fiel ou infiel a uma religião que não tenha doutrina; por tal razão seus adeptos jamais cometeriam fidelidade ou infidelidade a algum sacerdote que também seria apenas um outro adepto, como qualquer outro membro dessa seita. E religião sem doutrina não é religião, mas uma mera associação de fanáticos que ignoraria, sem princípios e postulados, os depósitos da fé.
Não pretendo comparar religião com partido político; a religião, enquanto coisa do sagrado, eleva-se muito mais em valores, em princípios e em normas. Mas, no que existe em comum aos dois, o "partido político" sem causa, sem programa, sem bandeira, não é um partido, mas uma mera associação de candidatos . Se partido fosse, somente a ele se deveria fidelidade, jamais a um ou aos outros integrantes do partido. Um partido só tem sentido se congregar pessoas em defesa das suas causas sociais e jamais individuais; causas que ensejam à luta pela solução dos problemas e pela satisfação das necessidades coletivas.
Li na imprensa que "quem votasse contrário à determinação das lideranças partidárias", mesmo favorecendo matéria de interesse popular, "cometeria infidelidade partidária e que seria expulso do Partido". Infidelidade a quem? Aos que são infiéis ao povo? Nas maquinações partidárias de pretensões casuístas, os parlamentares são livres para prevaricar contra sua sigla "partidária" porque ela se torna vazia de representação popular. Traição ou infidelidade só acontece quando se age e se vota contra as causas sociais assumidas pelo partido em seu programa. Caso contrário, as rebeldias são lúcidas demonstrações de fidelidade ao que o povo deseja, seguindo a voz da consciência e da ética. É isso que conceitua e define o que seja um partido ou os ditames merecedores de fidelidade.
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 14/07/2017
Alterado em 15/07/2017