Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


                           Chico Remígio ou Chico Bacana

           
A morte é uma coceira que só comicha quem está vivo. Indistintamente ataca, muitas vezes desprezível, mas quando ela vem, com todas as suas forças, é insuportável, vem e vence até a vida. Quem imaginaria que isso viesse acontecer com o alegre Chico Remígio? Sempre pareceu se dar bem com a vida, jamais acreditou que, na hora em que mais precisou de vivê-la, não a encontrou ao seu lado. Ultimamente, sua companhia de todas as horas, Acir Neto, logo tido como irmão, e depois, como filho, nos seus sensíveis comentários sobre a morte de Chico, expressou que essa fatalidade foi muito repentina para quem merecia tanto viver: “Remígio nos pregou uma peça e saiu de cena, antes do combinado. Não era deste mundo tão cheio de maldade e de interesses mesquinhos”.  Na verdade, Chico, sempre de sorriso aberto a quem encontrasse nos seus caminhos, era um ativo antídoto “desse mundo”. Citou Acir, em seu texto de despedida, suas profundas qualidades: “Coração doce, gestos firmes e de uma lealdade, cada vez mais rara, nestes tempos fugazes que insistem em imperar”.
          Desde Sousa,  os Gadelhas eram a sua casa, que bem testemunham essa lealdade. Foi nessa família em que, de início,  ele cultivou sua demonstrada sincera amizade. Quando preparava meu discurso de recepção a Paulo Gadelha, na Academia Paraibana de Letras (APL), eu o escutei, por muitas vezes, sobre a culta formação desse imortal , amigo comum, que também se foi. Chico sabia mais de Paulo do que o próprio Paulo.
          No velório do seu irmão, no Tribunal Regional Federal da 5ª
Região, em Recife, Marcondes Gadelha me incumbiu de falar em nome da APL e dos paraibanos presentes. Nessa ocasião, o pranto entrecortado de Chico me emocionou e então senti, ali, o quanto se tinha cortado da sua grande amizade. E agora, Marcondes, também em nome de Paulo, num comovente gesto e texto, presta homenagem a Chico: “(...) Para o meu irmão Paulo, Chico Remígio era uma espécie de alter ego; para o meio jornalístico o diretor criativo e inovador da Rádio Tabajara; para os mais íntimos , ele era apenas Chico Bacana, o amigo leal, incondicional, solidário e prestativo de todas as horas”.
          Convivi com essa rica e bondosa amizade, na échange de ideias, em frutuosas discussões políticas, quando ele me ensinava a compreensão das divergências e os caminhos do diálogo. Aquilo que ele me dizia, mesmo discordando dele, eu levava como uma séria advertência... A súbita partida de Chico Remígio nos revela que, se a alegria compartilhada fica maior, a tristeza compartilhada se torna menor...


 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 15/04/2020
Alterado em 16/04/2020


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