Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


                                                                           
                 O medo, o pânico e o coronavírus
 
          Ter medo é natural, assim quando nascemos e crescemos tendo os primeiros, dos quais um é o medo de perder a pessoa amada, notadamente a mãe, cuja presença a criança sente pela voz, pelo cheiro, que também a faz parar de chorar, porque, ali, tendo-a em seus braços, está a mãe que a amamenta. Em certa idade, tememos certos barulhos, por exemplo, os estampidos dos fogos de artifícios, os estrondos dos trovões, dos quais nos protegemos sob o lençol ou o cobertor, durante as chuvas do inverno. Há os medos que nos são incutidos, durante o período do ensino disciplinar, quando nos amedrontam com o fantasioso papafigo, com o não menos agressivo lobisomem, e ainda com almas e fantasmas do além. Os pais modernos proíbem que tais ameaças não sejam passadas aos seus filhos ou filhas. Na verdade, ter esse medo, na infância,  é coisa de sérias consequências na juventude e na idade adulta. O medo que se preserva, até durante a velhice, é o de morrer, mesmo tendo-se a certeza de que “quem nasce, morre”, ou que tudo o que tem vida, um dia, morrerá. Segundo os Evangelhos, até Jesus Cristo temeu a morte: “Pai, se for possível, afasta de mim esse cálice”...
          Mesmo sendo um estado emocional natural, mas desagradável, o medo serve como sinal de que estamos diante de um iminente perigo, constituindo-se assim um aviso para nossa segurança e que estará a nos proteger; esse nos defende. O medo de cairmos de uma certa altura nos acompanha, desde do dia em que isso aconteceu nos primeiros batentes de casa, nos primeiros degraus de uma escada, e assim por diante, até os últimos anos de idade,  quando, idosos, escuta-se que, depois de um escorregão, uma simples queda nos leva à espera prolongada de uma convalesça. Esses medos, oriundos da realidade, distinguem-se daqueles, cujos fatores saem do imaginário, o que é horrível, porque assusta sem motivo e pode acontecer não importa a circunstância, onde e quando esteja o amedrontado, assim , deixando de ser defesa e proteção.
          O tremendo medo causado pela deus Pã, admitido pelos antigos, chega às raias do pavor, daí se chamar de “pânico” (Pã) , que se propaga rapidamente durante um acontecimento coletivo, como a percepção de um terremoto por uma multidão, diante um palco de algum festival, numa praça esportiva ou dentro de um grande auditório. Temer estar no meio da massa ou dessas grandes concentrações possibilita agorafobia, medo de estar nas ruas, nas praças públicas, onde haja muitos indivíduos, o que pode se tornar também uma síndrome de pânico.
          Desde o início de 2020, começamos a temer o contágio do coronavírus, e por isso, sem existir vacina que evite a covid , com seus 19 sintomas, da tosse seca aos problemas respiratórios. E evitar o contágio significa isolamento social, que vem, cada vez mais, diminuindo, desrespeitado, porque tem se perdido o medo, o temor do coronavírus, pelo acontecimento de tantos e tantos internamentos hospitalares e, infelizmente de mortes. Seria como a situação de calamidade viesse a se transformar em situação de normalidade. Observa-se nenhum susto ou medo em saber que a nossa região se mapeia entre as mais infestadas por essa peste. Ora, o “ficar em casa” ou o  isolamento social é o único e o melhor remédio preventivo, não se trata, em hipótese alguma, de agorafobia...


DESTAQUE DA CRÔNICA : Seria como a situação de calamidade viesse a se transformar em situação de normalidade
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 02/07/2020
Alterado em 02/07/2020


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