Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

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                   Iveraldo Lucena, um pássaro em andança

          Tem-se como se fosse bíblico o provérbio popular: “Dize-me com quem andas, e eu direi quem és”. Encontra-se, no Livro dos Provérbios, essa sabedoria que sai da boca do povo, com outras palavras. Sem mudanças no conteúdo, o dito popular era sempre empregado pela minha mãe Lia, quando ia me buscar na pelada da Praça da Indústria, em Itabaiana. Essa praça chamava-se assim, mas não produzia alguma coisa industrializada, somente pelada, espiribol, vôlei, futebol de salão, exercícios do Tiro de Guerra, molecagem e uns quebradores de vidraça. Meninote, mas já entendia o que a mãe queria dizer, quando complementava: “Você aprende com essa gente o que não presta”. O conselho da Bíblia é menos malsim, atenua mais o peso acusatório e releva o valor da sabedoria: “Quem anda com os sábios torna-se sábio; mas o companheiro dos insensatos torna-se mau” (Provérbios 13, 20). Ou (Salmos 1, 1 - 6): “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos viciosos e corrompidos, nem se assenta na roda dos escarnacedores” (...) . Mais à frente, lê-se (Mateus 13, 24) a parábola nos induzindo a separarmos o joio do trigo; e, finalmente, somos orientados a uma certeza (Coríntios 1  15,33): “Não vos enganeis. As más companhias corrompem os bons costumes”. Um das fontes indicadoras dessas más pessoas é a mídia, onde cinicamente, assinam a autoria de fakenews.
          Andar com Iveraldo era a significância de uma muito boa companhia; era, de repente, dar as mãos aos que caminhavam com ele; tornar-se um andarilho, como ele batizou o grupo com que caminhava, longas trilhas na mata, a distantes praias, na beira mar. Andar juntos, sem medir distâncias, durante horas e horas, unificava umas dezenas de pessoas, aproximava e integrava amizades, das quais a maior era a com o líder da caminhada, Iveraldo. Tudo isso era a boa razão para se responder, quando nos perguntava com quem andávamos. Vaidosamente e com sadio orgulho, respondíamos: Com Iveraldo Lucena, no Andarilhos Pé no Chão. Nesse 15 de julho, seria o dia do seu aniversário, quando, com muita alegria, far-se-ia o lançamento do seu livro Caminhar Pé no Chão, ao qual ele me convidou para prefaciar, e, com ele em live, fazermos a apresentação e um diálogo sobre esse relato de como se construíram tais continuadas caminhadas , e ele sempre animado por Iracema e pelos bons resultados expressados pelo grupo. Acredito que ele ficará feliz, onde está e de lá vendo, ao agradecer, em sua homenagem, o amigo ou a amiga adquirindo o seu livro. O autor se lançou aos céus, antes do livro, mas o livro fica em nossas casas como a sua memória.
          Suas palavras, nessa obra, são a sua cara, sua simplicidade, sua alma, do homem bom, de boa natureza, que, por simbiose com o verde, apaixonou-se pela Natureza, indo morar na Granja Pitumirim, junto às arvores que plantou, junto às filhas e ao filho que criou, muitas vezes, com amigos e amigas que conquistou e dos quais deveio responsável, aprendendo com a raposa, no Pequeno Príncipe, de Antoine Saint Exupéry : “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” (Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé). O livro tudo nos narra. Iveraldo conosco, caminhando entre as árvores da mata, até encontrar a fonte das águas e do rio; o rio que nos levava, como guia, ao mar; as praias, com suas areias molhadas, que nos ajudaram a suportar a quentura e o calor do Sol. Um livro que nos faz caminhar. Tirei profunda lição como andarilho: Quando se caminha de mãos dadas, não se pode caminhar em sentidos opostos...


POST SCRIPTUM: Para adquirir o livro Caminhar Pé no Chão, de Iveraldo Lucena, telefone a Ricardo Lucena (83) 99958 9299.
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 09/07/2020
Alterado em 09/07/2020


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