Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


                                           
                                                 
                                 Aonde me reviro, Coronavírus

          No início de tudo, era começo de 2020, escrevi a crônica “Aonde me viro, Coronavírus”, ainda no Correio da Paraíba, onde era cronista aos domingos. No final desse ano, volto ao tema, porque tudo está voltando...  Nenhuma peste do mundo fez-se falar tanto sobre si como essa de agora, que veio e demora, aqui e acolá, reaparecendo, com muita força, a complicada sigla, vinda do inglês, Covid-19. Pois é, para onde me reviro, revejo, de novo escuto, e reescrevo também sobre essa coisa, que vem espantando o mundo, menos os idiotas. É minúscula, corrijo-me, ninguém a vê, mas, age como se fosse gigantesco monstro, lembrando-me o filme Tarântula, que me fez medo nos tempos de menino: Enorme sorrateira aranha que, saía do seu esconderijo, para aterrorizar a cidade, com suas enormes patas e ferrões. Esse de agora é um vírus que se mata com apenas água e sabão ou com álcool 70. Também não se propaga, caso o leitor se isole, afaste-se dos grupos maiores e deixe esse cultural chamego de beijar, cheirar, abraçar e de apertar as mãos dos outros; o mesmo às crianças, sejam elas filhas ou netas. País europeu, que assim não fez, voltou a fechar as escolas. O contágio não respeita idade,  nos leva à morte, pior, mata. Quem lida com administração da saúde pública e goza de responsabilidade considera a  situação preocupante. Havia leitos suficientes para ajudarem a suportar o sofrimento da falta de ar, mas, agora, alguns hospitais de metrópoles, como Recife, entupiram-se de gente em macas e cadeiras de roda.   
          Na humanidade, há ruindades como esse vírus, il mondo gira così malato. Uns levam na brincadeira e ao descaso os já sepultos, acometidos desse mal, sufocados, sem poderem respirar e sem o direito de um leito na UTI; outros, notórios oportunistas, aproveitam-se da desgraça alheia para se promoverem na venda da tão esperada vacina, não visam ao bem público, quando a necessidade e a doença têm alcance coletivo. A vacina é nossa redenção, há de ser para todos. É isso, nos dias de hoje, o grande mal da humanidade, fazendo até que se interprete ser tal maldita pandemia uma daquelas pestes ou dilúvios, que caíram dos céus como castigo divino. Usa-se a natureza como lugar para lixo ou às coisas descartáveis. À sua maneira, a natureza reage; sim, graças a Deus, ela reage. Sem valores humanos e éticos, o mundo adoece.
          Aonde me reviro, Coronavírus? Não! Também me deparo com meditações sérias e profundas. Algumas pessoas chegaram a se perguntar sobre valores, sobre  princípios e a refletir sobre se isso seria o início da “autodestruição do mundo”. O  que deve ser corrigido? Contudo, acontecem  exemplos de solidariedade. A força dessa crise, para não dizer dialeticamente o positivo desse mal, é talvez a redescoberta dos nossos valores, da diminuição das ganâncias, do retorno à casa e à família, que vêm sendo abandonadas. Destaco as ações do Governador João Azevêdo no combate à peste; louvo mães e pais que substituíram a escola;  que sentaram no chão, em torno de um balaio de brinquedos para brincarem com suas crianças. Destarte, alguma coisa haverá de mudar.


DESTAQUE : A força dessa crise, para não dizer dialeticamente o positivo desse mal, é talvez a redescoberta dos nossos valores, da diminuição das ganâncias, do retorno à casa e à família, que vêm sendo abandonadas.
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 17/12/2020
Alterado em 17/12/2020


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