Tenente Lucena, o pai da autora
Tenente Lucena, O Legado de um Educador Social é resultado de um fenômeno simbionte: o pai que gerou a filha, e, escrevendo, a filha, o pai. Vivas páginas que historiam um homem de excelência, que muitas coisas sabia, polivalente, altruísta, e daí o descrito do seu legado de educador, pois quem muito sabe educa. Assim é que Tenente Lucena caminhou na vida, todas as vezes que se considere que a vida é um caminho, onde quem faz caminha. Homens bons, como ele, suscitam ter escritos seus legados. Esse foi o sentimento de Iguatemy, como seus irmãos e irmãs, com nome indígena, que também era docemente apelidada por ele de “Mica”.
O caminhar de Tenente Lucena origina-se itabaianense, no mesmo distrito de Campo Grande, em que nasceu Sivuca, com o qual tinha um ramo de parentesco. Por lá, quase todos, albinos ou não, são de uma mesma árvore. Como Sivuca, Tenente Lucena sempre cultivou uma forte ligação com a música. E dessa tendência, ambos desenvolveram admirável dedicação à arte. Sim, Tenente Lucena não escolhia a faixa etária para andar de mãos dadas, brincante ou artista de verdade. Fosse junto às crianças; fosse aos jovens ou adultos, ou, mais devagar, em companhia de um grupo de idosos, a música era sua predileta forma de linguagem.
O Tenente era um militar diferente dos da tropa, em todos os sentidos, alimentava especial vocação docente. Lembro-me, da minha infância escolar, em Itabaiana, ele, acolitado por Valdo Enxuto, ensaiando o desfile de 7 de setembro e, ao mesmo tempo, ensinando aos que tocavam na Banda Marcial do Colégio Nossa Senhora da Conceição. Nesse período, inúmeras escolas, de outras regiões da Paraíba, o conheciam... A presença do Tenente Lucena, com seu estridente apito, era mais simbólica do que o tocar dos taróis, tambores, bombardas, percussão, trompetes, cornetas ou clarins. Instruía tudo, do toque da corneta ao rufar dos taróis. Era um verdadeiro maestro ou regente, que se confundia com os instrumentos e com o grupo regido, em virtude da sua índole de liderança. Entusiasmava tudo em que se metia. Para aclarar que nadava a braço, no imenso mar das artes, ele também pintava...
E nessa pisada, foi da Universidade Federal da Paraíba professor e criador do Núcleo de Documentação e Pesquisa de Cultura Popular, com o incentivo de Lynaldo Cavalcanti e apoio de Iveraldo Lucena; membro diretor da Orquestra Sinfônica da Paraíba; fundador da renomada Banda Municipal 5 de Agosto. Em São João do Sabugi, região em que muito atuou, também fundou a Banda de Música Filarmônica; participou dos movimentos do folclore paraibano; e, sob as bençãos de Ariano Suassuna, realizou-se como entusiasta do Movimento Armorial. Precursor do escotismo na Paraíba, Tenente Lucena sempre foi um jovem escoteiro, de vigor extraordinário. Tinha, para tudo, uma disposição fora do comum, sobretudo quando seu trabalho o divertia e tinha objetivos culturais. Mesmo na arduidade e no batente dos obstáculos, nunca abandonou seu peculiar bom humor, dizendo suas “tiradas” e falando agradáveis prosas. Revelava seu espírito agapetônico, em conexão com a essência da amizade, logo, um grande fazedor de amigos. Tê-lo à mesa, em companhia de uma cachaça brejeira ou de um delicioso vinho, sustentava longas e gostosas conversas.
A obra de Iguatemy Maria de Lucena Martins, companheira do meu ex-aluno Martins e ex-colega na UFPB, se não existisse, faria falta à história dos artistas paraibanos, e ausentar-se-iam vivências de bens e experiências artístico-culturais. Orgulho-me de ter sido seu professor de Lógica e Metodologia Científica, mas, mergulhando na sua obra, aprendo. Seu livro, Iguatemy, exalta e exulta referências e protagonismos do Tenente Lucena na cultura paraibana.
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 10/11/2022
Alterado em 10/11/2022