Professor Manuel Viana Correia
Ao abrir a coluna de Chico Viana, onde leio seus textos e tiradas proverbiais, entristeci-me com a Nota de Falecimento do seu tio, Professor Manuel Viana. Estava redigindo minha crônica semanal, que escrevo desde 2005, e imediatamente larguei o assunto para tratar do que, nem morto, se pode delir. Já era meia noite, apenas poucas horas do seu sepultamento, perdendo assim de ver seu corpo pela última vez. Era amizade indelével, que nos proporcionava conversas e mais conversas sobre Filosofia, com o “reconvexo” de outras coisas da vida e da “areia do Saara sobre os automóveis de Roma”. Sim, Viana tinha várias partes da sua vida que coincidiam com as minhas.
Conheci Manuel Viana, em 1973, pelas mãos de Paulo Pires, hoje Monsenhor, para lecionar História da Educação e, posteriormente, Filosofia da Educação na embrionária FACED da UFPB. Ele me foi apresentado pelo magnânimo Tarcísio Burity, circunstância na qual reencontrei outro mestre: José Rafael de Menezes, que muito me ensinou sobre cinema, nos cineclubes da vida, que o diga Wills Leal, e nas aulas do Seminário Arquidiocesano da Paraíba, aquela extraordinária escola.
Anos depois, participei do concurso para ensinar Lógica e Metodologia da Ciência, no CCHLA. Foi quando Manuel Viana e José Ramos sugeriram ao reitor Lynaldo Cavalcanti para eu ser transferido ao Departamento de Pedagogia do CCSA, onde juntamente com Viana, Jamacy da Costa e José Augusto Peres, criamos o Centro de Educação da UFPB, e logo depois o Mestrado de Educação, hoje oferecendo Curso de Doutorado a todo o Nordeste. Manuel Viana foi também companheiro docente nos Cursos de Pós-graduação Lato sensu de Metodologia de Ensino Superior em João Pessoa, Campina Grande, Souza e Cajazeiras. Na matéria de saber dar aula, distingo dois exímios professores: Manuel Viana e Luiz Dias Rodrigues, conhecido por Luizito. Professores no Lyceu Paraibano, de onde Viana foi ouvido pela histórica FAFI, que o convidou para dar algumas aulas e, por isso, da UFPB, onde se tornou destacado professor do quadro docente.
Viana tinha tudo promissor para ser um preparadíssimo pregador, de oratória fluente e adequada à matéria que lhe propusessem, mas desgarrou-se, no magistério e com competência, por outras disciplinas, o que o entusiasmou por muito tempo da sua longeva vida. Um dia, disse-me Paulo Andriola, Manuel e Laís foram convidados para participar de um encontro do Catecumenato, por Francisco Pereira Nóbrega, também cadeira 33 da APL, lugar que tenho a honra de ocupar.
Foi quando Manuel Viana derrubado do cavalo, tal qual Paulo de Tarso, ouviu a admoestação de Cristo: “Paulo, Paulo, por que me persegues?”; mas numa imagem mais adequada: Manuel, Manuel, por que me abandonas? Manuel Viana cegou, e em seguida, recuperou a vista numa visão autenticamente cristã. Caiu do cavalo e quebrou-se, como se fosse um jarro de argila. Porém, seduzido pelos Evangelhos, reconstituiu-se pelas mãos do Oleiro, pedaço por pedaço. Viana, que entre os acadêmicos discutia as teorias evolucionistas das nossas origens, humildemente sentiu seu retorno ao barro. E agora mais ainda, morto e sepultado, experimenta a sentença: “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; pois tu és pó e ao pó tornarás (Gn 3, 19)”. É o que ouviremos, na quarta-feira após o carnaval, ao sermos marcados na testa, por uma cruz de cinzas.
A formação e a educação de Manuel Viana se esmeraram, do Seminário à Pontificia Universitas Gregoriana, em Roma. Contudo, como na Parábola dos Talentos, o ensino que ele nos legou foi bem maior do que o que ele recebeu. Por isso, merece Manuel Viana todo realce na História da Pedagogia e da Educação, na sua terra, a Paraíba.
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 07/02/2024
Alterado em 07/02/2024