Após a reforma, salve-se a inteireza
O Ministério da Educação andou reformando o Ensino Médio, na estrutura do sistema educacional, entre o Ensino Fundamental e o Superior, visando que o ensino permita ao jovem optar por uma formação profissional e técnica, dentro da carga horária. E anunciou ainda que poderá haver reforma... Grosso modo, cerca de doze disciplinas se fundirão em quatro áreas: “línguas, matemática, humanas e exatas/biológicas”. Tudo será feito para não “fragmentar” o currículo escolar. Pouca novidade, pois a percepção de que o conhecimento é uno, uma coisa só, vem dos antigos filósofos, que sempre falaram da unidade do conhecimento. Integridade que se compara a uma rede cujos fios se entrelaçam pelos nós, que amarram uma parte à outra, como se fosse uma grande rede de pesca. Pois bem, perfeita analogia: cada nó seria um conhecimento, na vasta malha do saber humano.
Conta-nos a história da educação que, à medida que crescia o conjunto dos conhecimentos, dividia-se o conteúdo em áreas, “matérias”, posteriormente, em disciplinas, em que se pretendesse aprofundar o melhor domínio do extenso acervo, tal qual comparação do educador, do Centro de Educação, Professor Luizito: “Como o homem, para assimilar o alimento, fragmenta-o ou quebra-o, o que, depois, reintegra-se na digestão. Assim, do mesmo modo, para se compreender algum extenso objeto, o homem também fragmenta o seu todo”, depois, o objeto a ser compreendido vai readquirindo sua inteireza. Também aquele que se dedica a saber, exclusivamente, sobre o dedo, provavelmente, não compreenderá o corpo. Ninguém sabe sobre a parte, desconhecendo o todo, ao qual pertence cada parte. Ou acontece a ironia, nos meios acadêmicos, sobre o radicalismo da especialidade: “o especialista é aquele que sabe cada vez menos sobre o todo e cada vez mais apenas sobre a parte”.
A teoria da interdisciplinaridade é resposta a tudo isso. A “reforma” ocorreria, se os professores combinassem o dia a dia do ensino; cada disciplina estivesse a necessitar uma da outra explicitamente nos programas; os docentes seguissem os programas; os professores não avançassem a unidade programática além da unidade da disciplina afim, demonstrando que o conteúdo do ensino se realizaria interdisciplinar. Pitágoras já tinha intuído que os fenômenos físicos e químicos são regidos pelos números da Matemática. E, também, a estreita correlação entre a música e o número. A interdisciplinaridade evita a dispersão na pluridisciplinaridade e na transdisciplinaridade. Ela é a interação existente entre duas ou mais disciplinas, praticada da simples comunicação de ideias e comparações até a integração mútua de conceitos e métodos, que se relacionam no estudo, na pesquisa, e, sobremaneira, no ensino e na aprendizagem das disciplinas separadas que, por sua vez, reintegram-se e retornam ao conteúdo como um todo, o logos. A educação é exitosa na sua integridade, quando se preserva sua inteireza...
Sobre o assunto, muito falarão, mas, antes, tudo dependerá da mentalidade dos que conduzem a escola fundamental, média ou superior; da formação dos docentes para que ensinem ao aluno ser capaz identificar e discernir a relação entre Matemática, Física, Química e a Linguagem. Mediocridade seria reformar por reformar, sem considerar a educação, suas teorias e história. Ao contrário, com o modismo da palavra focar, o ensino médio continuaria sendo apenas um médio ensino.