Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


         
                Carro elétrico, mais saúde e economia

          Quanto sufoco, nesse trânsito de carros usados, velhos , novos, muitos...  Quando apareceu o carro, ele não chegou a tal importância, como hoje, determinante  nas ruas, nas praças e nas calçadas da cidade, inclusive feitor de pontes e viadutos, mandão nos costumes e no urbanismo. O carro se tornou tesouro de alguns corações. Era desengonçado, parecido com um besouro, feio, mas querido. Acho que não existe alguém vivo que não tenha visto , durante a infância, um carro de verdade. Houve o tempo em que “bonito” era o cavalo, trotando com o dono pela rua principal da cidade, cabeça erguida, crina esvoaçante, selado com luxo e adornos. O cavalheiro de paletó, uniformizado do chapéu de massa ou panamá à caríssima bota, bordada com arte e prata. Ou numa luxuosa charrete...
          Inventaram o carro, depois de o cavalo se vulgarizar, sendo montaria de guerra, de vaqueiro ou puxando as “diligências” de faroeste ou até carroça de mudança. Declínio, também compartilhado pelos jumentos. Os ciganos admirados, em suas retiradas nômades, montavam belos alazões. Destronaram o cavalo os carros dos usineiros, comprados para viajarem à capital, ou às grandes cidades. Ir mais longe se tornava uma temeridade. O carro passou a exigir calçamento nas principais cidades, geralmente em forma de paralelepípedo; o carro, não subserviente ao dono, parava, antes de começar a rua desajeitada, diante de buracos ou de poças d’água, que lhe salpicariam os paralamas; sujariam os pneus, alguns com faixa branca, era como se fosse sujar os sapatos.
          Não foram os pedestres, mas o carro que exigiu um calçamento mais liso, até estrada de cimento.  Essa macieza da estrada, por razões econômicas, foi conquistada pelo asfalto, saindo das estradas e invadindo ruas, bairros e até os centros históricos de cidades patrimoniais. O carro exigiu não andar com catabi e solavancos, ou em ruas asfaltadas com buracos, mas quase como a pista dos sambódromos. No começo eram as pedras, mesmo disformes, pontudas, como em Parati, contudo, resistentes. Mas, afrouxavam os parafusos do carro, essa majestade. Tudo para o carro, essa é a loucura, nada ao coitado do pedestre, verifique-se o que ocupa as atuais calçadas... Satisfeito, o automóvel dá o sobejo às bicicletas, às motocicletas, aos ônibus coletivos e aos de turismo. E fim às carroças, puxadas pelo burro ou pelo cavalo. A era do automóvel começou e impera; e não há tempo para terminar, mesmo já causando poluição sufocante, soltando o venenoso bafo pelo escape, dentro de um tráfego congestionado. Antigamente o automóvel aparecia apenas aqui e acolá. Hoje, vêem-se muito mais carros do que estradas ou pedestres, estimulados a comprarem também um automóvel, numa tendência recomendada de um carro por habitante, à venda no mercado dos usados que não param de circular. 
          Ainda nos meados de 2024, anunciar-se-á  a fabricação de modelos 2025. Porque exibir o carro do ano é supina vaidade da classe média. O trânsito está horrível, sua melhora depende muito da multiplicação de um bom e cômodo transporte público. Contra o efeito estufa e as reviravoltas da Natureza, torço pelo carro elétrico: não polui, com maior conforto e muito maior economia... Machado de Assis lamenta, em Memórias Póstumas de Brás Cubas: “Um cocheiro filósofo costuma dizer que o gosto da carruagem seria diminuto, se todos andassem de carruagem”... Valho-me das palavras do cocheiro. Contudo, haverá mais saúde e economia, se todos andarem de carro elétrico.

Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 11/04/2024
Alterado em 11/04/2024


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