Independência, autodeterminação e respeito às leis
Hoje é 6, quase 7, Dia da Independência, dia em que saí de ônibus de Gustavo
Amorim, de Guarabira para o Rio, precisamente uma quarta-feira de 1966, com destino a Roma. O navio Giulio Cesare aportou em Napoli, em 27 de setembro, quando os napolitanos me saudaram, como se fosse meu aniversário, o Dia de São Cosme e Damião, e dos que assim se chamavam. Desejavam tanti auguri, enquanto o cajazeirense amigo Antonio de Souza Sobrinho explicava-me que, na Itália, comemorava-se o dia do onomástico como se fosse aniversário. Sinal de que começava a conviver com o relativismo cultural...
Contudo não esqueci, nesse longo 7 de setembro, pelas estradas até a Bahia, nas pequenas cidades, os desfiles escolares com suas bandas marciais, até o entardecer, o que muito me fez recordar, em Itabaiana, marchando sob o comando e a corneta do Tenente Lucena. Quando menino, no Dia da Independência, perguntava-se o que era Independência, e comparavam: “Você é dependente. Quando crescer, será independente dos seus pais”. E ali, aos meus 19 anos, sozinho, saía do meu país para muito distante de casa, para tomar conta da minha vida.
Voltei, em 1971, a Guarabira para, com Padre José Paulino, criarmos a FAFIG, hoje UEPB, onde fui professor e diretor, fazendo meu país cada vez mais “independente”. Agora, mesmo quando se festeja a independência, reflito sobre intenções e propósitos de se desfazerem dos fatores econômicos, que tornam nosso país independente do capital estrangeiro, não precisando alienar nossas riquezas, nossas terras e o que está debaixo dela, como o petróleo, já que parte de outras minas foram entregues. O grito, nas margens do Ipiranga, ainda ecoa, num tom ameaçador: “Independência ou morte”. A morte foi evitável: Todos os que, às margens do Ipiranga estavam, jogaram fora “os laços de Portugal”, inclusive o Príncipe herdeiro... É a história que subsiste.
Os tempos mudaram, como mudam as águas dos rios, dos riachos, até as margens esquerda, direita e o leito do então Ipiranga. E também o conceito de independência e a quem ele se aplica. Ontem, era se libertar de Portugal; hoje, de qual jugo? Ainda há pouca independência, pouca conquista, que poderá sempre crescer. Os laços, símbolos portugueses, ali foram retirados do peito, como pintou Pedro Américo: sem luta, com muita facilidade; sem protestos, sem quase alguma reação armada do reino; e o povo lusitano não reclamou. Enfim, só faltava o grito que estava empacado, tartamudo.
Aqui e agora, enquanto o fogo, por fósforo interesseiro, queima ardentemente as nossas matas e florestas, derrubando, na Amazônia, árvores centenárias, apagam-se, como se pode, esses incêndios, na maioria propositais, sem incriminar os incendiários; discutem-se estatísticas, e roga-se proteção aos povos nativos, como estivessem apenas reclamando da fumaça e do calor.
Independência, em nome da “autodeterminação dos povos”, de todas as nações em todos os países; contra toda e qualquer interferência. Constata-se que o mundo é uma aldeia, hoje, tão globalizada que a preocupação em se proteger o meio ambiente deve ser uma atitude também globalizada, sobretudo, porque o ar que respiramos pertence a todos. Dessa conscientização, somos vantajosamente dependentes. Sem essa preocupação globalizada, brevemente a Terra não sobreviverá, e não teremos outro planeta a habitar; aqui, direito sempre conquistado pela independência.
Haja um Brasil independente, com autodeterminação e com as próprias leis, igualmente obedecidas pelos estrangeiros que venham usufruir do nosso país...
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 07/09/2024
Alterado em 07/09/2024