Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


              Decus et Opus, brasão da APL
 

          Precavido, desconfio que vaidosos se constranjam em se dizerem símbolos. Recorro ao Antigo Testamento, Livro do Gênesis, em que  Jaweh modelou todos os animais e os pássaros dos céus, tornando-os coisas vivas, e coube ao animal humano nomeá-las, pôr nome a esses animais, para a eles nos referirmos e distingui-los, cada nome representando cada coisa. E dentre essas coisas, estamos nós: homem e mulher, preexistindo antes de sermos denominados. Como os outros bichos, cada um com o seu nome, o que nos reverte a animais simbólicos, objetos no universo da criação.
          A Antropologia Filosófica, de Ernst Cassirer, explicitamente define o homem como animal simbólico, em toda sua concepção simbolizante. Isso é mais simples do que a definição aristotélica que nos considera um animal racional e político, o que prefeririam a ser chamados de coisa ou emblematicamente de animal simbólico, mesmo que fosse em toda plenitude simbolizante, isso seria mais simples e menos complexo. A coisa simbolizada pela respectiva palavra significante sinaliza seu conteúdo semântico, no seu mundo real e cultural.
          Daí a riqueza, em todos os sentidos, da linguagem, sintetizada na palavra, ser a alma da nossa cultura. O próprio Deus quando se denomina de Verbum, eu “sou a Palavra”, propõe um verdadeiro e perfeito símbolo sobre o sentido e a profundidade desse termo. Enfim, Deus é um excelso criador de símbolos, inclusive dos homens e das mulheres, que se tornaram vaidosos ou soberbos entre si.
          A ação humana da arte está bem presente no brasão Decus et Opus da Academia Paraibana de Letras, de autoria do Cônego Mathias Freire, principal articulador da criação da APL. A palavra Opus, como res ou coisa, representa o resultado do trabalho do homem ou da mulher, no caso, obra acadêmica. Desse modo, a ação humana, no que tem razão Protágoras, devém “(...) a medida de todas as coisas”, mas não deixa de ser uma produtora de símbolos, cuja ação simbolizante não cessa nas nossas ações. Enquanto se dá o nome à coisa, passamos a defini-la num conjunto lógico, a colocar-lhe limite e a trancá-la num símbolo. Opus é a coisa realizada pelo acadêmico, que se estende além dele próprio, ele assim a distingue das outras coisas também por um símbolo.
          No brasão da APL, a ética não se esgota em Opus . A ação humana se embeleza pela simbologia da Decus, quando acontecem os valores transcendentes, que elevam o agir do homem. Isso é essencial como bússola da Opus. Os acadêmicos e as acadêmicas, também como produtores de símbolos, simbolizaram, no seu lema-brasão, a medida das suas coisas, a simbologia das suas ações, não cuidando apenas do trabalho como também da estética. Imortais, acima de qualquer vaidade, somos, sim, animais simbólicos.
           Animais simbólicos, que se dedicaram em vida à palavra escrita ou falada, que se não bem dita, deve o silêncio aos que leem ou escutam. Contudo, o símbolo em si, por sua qualidade metonímica é um sinal silencioso que se abrilhanta por isso. Porque seu silêncio é altamente significante, e sua força, mesmo no silêncio, fala mais alto do que qualquer voz alta ou brado, ou, mesmo no silêncio, reconduz o silêncio ao silêncio por causa do símbolo...

 

Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 21/02/2025
Alterado em 21/02/2025


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