O Dia do Trabalho no século XXI
A Antropologia Cultural, especialmente em Man And His Works, de Melville J. Herskovits, Tomo I, afirma que foi a necessidade de sobreviver que inventou o trabalho; mas, a Bíblia diz que foi a expulsão de Adão do Paraíso, obrigando-o, fora do Éden, a levar consigo Eva, para comer o pão com o suor do seu rosto. E ainda, depois de tanto trabalhar, morrer, voltar à terra em forma de pó. Haverá outra motivação ao trabalho, antes desse significativo castigo?
Há quem lamente trabalhar; outros sofrem porque não trabalham ou arriscam a vida, em terra ou no mar, à busca de um emprego, e onde houver melhores condições de sobrevivência: comida, casa, saúde e, quiçá, educação aos filhos, esperançoso de, antes de morrer, não sofrer penúria. Ainda a Antropologia Cultural nos induz a compreender que os humanos humanizam a natureza pelo trabalho, como se construíssem um outro mundo ou nisso formassem a sua identidade, ao produzir o necessário para si e que a tal produção sirva também para os outros. Ou seria tal fenômeno individualista, só para si, com a finalidade de lucrar ou de vantagens, além de individualmente sobreviver? O desenvolvimento da cultura tem seus fundamentos, sem amarras ou correntes, numa produção do trabalho para todos, o que se descaracteriza, nas multidões e filas do desemprego. O enredo do filme Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica, demonstra essa angústia... Talvez sejam questões sobre uma realidade crescente, a partir do trabalho do homem primitivo.
A esperança é ação da dialética nesse processo: o homem trabalha para humanizar a natureza, e enquanto isso, a natureza consumida se ressente, dando sinais de que ela também precisa sobreviver; e assim, desse meio ambiente, dependerá a sobrevivência humana. Nesse sentido, vejamos as catástrofes acontecendo em terras e mares. A humanidade, consciente e não alienada, vem se reunindo sobre esse assunto, apesar dos propósitos, ações e omissões no sentido contrário, que visam somente ao lucro, mesmo havendo desmantelos na natureza e no meio ambiente. O trabalho não deve se assemelhar ou se igualar ao funcionamento das máquinas. Tampouco ter como finalidade o enriquecimento exorbitante de poucos e o miserável empobrecimento de muitos. Substancioso nesse aspecto ou como o homem é tratado como apêndice da máquina, o genial Charlie Chaplin, na imperdível película Tempos Modernos , ele alerta, e até com muito humor, ser o trabalho a nossa felicidade e não o contrário, como ainda ocorre na escravidão, ao ponto de o trabalhador ser engolido pela máquina; e talvez também comido pela Inteligência Artificial.
O fenomenal pensador Domenico de Masi, autor de O Trabalho no século XXI, reinventa como poderá ser o mundo de produção, já diante da ostensível fadiga, da coragem do ócio e da criatividade, numa sociedade, com rica experiência, nesse tempo do trabalho pós-industrial. Isso me lembrou o meu Professor na Sorbonne, Joffre Dumazedier, ao escrever a Sociologia do Lazer (Sociologie du Loisir), face às reais ameaças das máquinas, sozinhas, fazerem tudo. E o que restará ao trabalho humano? Assim também se questiona como será, no futuro próximo, O Dia do Trabalho...
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 03/05/2025
Alterado em 03/05/2025