Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


          Leão I, Leão XIII e o midiático Leão XIV
 

          Leão Magno foi o primeiro leão na história da Igreja, corajoso defensor da fé e de Roma, também conhecido por ter desestimulado os hunos e convencido o feroz Átila a não destruírem Roma (452). No Museu do Vaticano, há um afresco, onde vê-se  Átila com Leão I ao centro, e por trás os apóstolos Pedro e Paulo, o que teria mudado o propósito do temido Átila. Quando morei em Roma, vi um buraco sobre o qual, dizem os italianos: “Onde pisou o cavalo do Átila, não nasce grama...” O Papa Leão I fortaleceu ainda mais a autoridade papal no Concílio de Calcedônia (451), contra-argumentando “heresias”; também através de um legado de cartas, doutrina teológica e pronunciamentos pontificais, definiu a natureza de Jesus Cristo como divina e humana. Sua coragem evitou que os vândalos, chefiados por Genserico, em troca de um moderado saqueio, não incendiassem toda a cidade. Esse Leão foi conciliador nas divergências teológicas e na diversidade de opiniões, unindo  a Igreja.
          Foi nessa trilha leonina de coragem e de ação, que o lúcido cardeal Giocchino Vicenzo Pecci, eleito em 1878, assume o nome de Leão XIII. Compreendeu o relativismo e a antropologia culturais para reconciliar a Igreja com a própria cultura; estimulou a criação de ordens religiosas para propagar o Evangelho, em nações distantes, e destacou-se com suas encíclicas, como a Rerum Novarum, que respondeu aos problemas causados pela Revolução Industrial, quando se pensava somente em produzir e lucrar, mesmo que tal obstinação afetasse danosamente a saúde, o lazer e a família, ainda submetendo o operário a um injusto salário, sem liberdade de reivindicar. Nesse tempo, teóricos do capitalismo e do socialismo divulgaram suas teorias, Leão XIII surpreendeu com a visão cristã sobre o trabalho e o trabalhador, orientando-os inclusive à organização dos sindicatos, que protegessem o direito de reivindicar. Por isso, nos regimes autoritários de exceção, a impactante Rerum Novarum sempre foi tida como “subversiva”, motivo de perseguição e prisão... Essa mensagem papal despertou outros papas, como Pio XI, com a Quadragesimo Anno, a nos enviar cartas pastorais sobre a dignidade da pessoa humana e a justiça no trabalho.
          A História da Igreja anima os eleitos Papa, com visão de justiça social, a simpatizarem com o nome de Leão. Por tal e outros motivos, o nascido americano e, amadurecido, naturalizado peruano, cardeal Robert Francis Prevost, quando lhe perguntaram, ainda no ritualístico Conclave: "Aceita sua eleição canônica para Sumo Pontífice?" e "Como deseja ser chamado?", de pronto, Roberto respondeu “aceito” e em seguida não tergiversou: Serei chamado de Leão XIV. Já sabia também, como amigo do Papa Francisco, que o franciscano Frei Leão tinha e  preservava  profunda amizade com São Francisco de Assis...
          Quando no Seminário e no ensino superior, demonstrou-se estudioso de matemática, lógica e filosofia, compreendeu bem a cibernética e “quarta revolução industrial”; domina assuntos relativos à tecnologia e assim a inteligência artificial; as impressoras 3D, drones, nanotecnologia, neurotecnologia, internet das coisas, realidade aumentada, transgenia e veículos autônomos; leitor do alemão Klaus Schwab sobre a atual revolução da produção automatizada e robotizada. Por isso eu mesmo já sigo @Pontifex - Pope Leo XIV. Ele sabe das coisas. Com certeza Leão XIV usará a mídia para se comunicar conosco sobre os fenômenos sociais, a inteligência artificial e a Igreja de hoje, fazendo face ao trabalho e  à sua substituição por essas máquinas.  

 

Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 16/05/2025


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