Nossa soberania não tem prazo
O dia de hoje, 1 de agosto de 2025, poderia se denominar o dia das chantagens, em virtude da desmiolada carta, enviada ao Presidente da República, vinda dos USA, e assinada pelo Presidente atual daquele país. A carta, em termos simplórios de bilhete, não dignifica quem a escreve; tampouco quem a recebe. Pois, contém inexatos e desconexos assuntos econômicos, condicionando-os, por intromissão, a assuntos estritamente e próprios da competência da Justiça Superior, no Brasil, e de assuntos menores, como o brasileiríssimo PIX e o vaivém comercial na Rua 13 de Maio, da indomável São Paulo. Carta desaforada e arrogante não interessa ao destinatário. Espera-se que ela seja substituída por um racional diálogo, pelo eventual bom senso do signatário ou pelas leis da oferta e da procura no comércio sem intervenções. Caso contrário, viva-se a soberania sem prazo, que sempre foi ameaçada por interesses alienígenas para explorar nossas riquezas. O Brasil é dos brasileiros; o México, dos mexicanos; e o Canadá, dos canadenses...
Nas calouradas universitárias de 1961 a 1963, a instrução política da juventude revelava elevado grau de conscientização e conhecimento muito necessários à compreensão dessas explorações alienígenas. Naquele tempo, faixas e cartazes expulsavam Lincoln Gordon da nossa ambiência política; também gritavam “fora trust yankee e o FMI”; e reivindicavam nossas liberdades que já andavam ameaçadas de intervenção. A concentração dessas passeatas se dava, na Duque de Caxias, entre a Praça Rio Branco e, ironicamente, a Delegacia Central da Polícia, que na época selava nossos passaportes, depois de 1964, com um grande carimbo: “Não é válido para Cuba”, depois de “folha corrida” e várias certidões negativas. Preservo o meu, que então serviu para eu ir estudar na Itália... Porém Lincoln, embaixador dos United States, alegando o perigo das Ligas Camponesas, que só tinham de “armas” utensílios do campo, como foices e enxadas, com apoio da CIA e voluntários da Aliança Para o Progresso, do IBAD e do Rearmamento Moral, não suportou a defesa das nossas riquezas, a idealização das Reformas de Base, projetos que irritavam políticos reacionários. Entre 31 de março e 1º de abril, interromperam-se as instituições constitucionais da nossa democracia...
Não bastava uma minoria consciente da “autodeterminação dos povos”, o que tanto nos apregoava, nas passeatas, faixas e cartazes, e sobretudo na ONU, o nosso extraordinário San Tiago Dantas: “Um mundo mais justo e igualitário, com ênfase na valorização da liberdade e da democracia”, isso especialmente em relação à nossa política externa independente, autodeterminação essa que significa autonomia e soberania, lidas na história e na conceituação de soberania em Norberto Bobbio e Nicola Matteucci.
Trump se iguala ao invasor Lincoln Gordon, sem o mesmo preparo intelectual. Inadmissível que pretenso político brasileiro participe desse conluio que queira inibir nossa autonomia, nossa soberania. Prova-se que não é verdade o que dizia Lincoln Gordon, tentando nos enganar, pelos ouvidos e boca de Juracy Magalhães: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. As absurdas tarifas nos mostram exatamente o contrário... Que as crises, que lá agora acontecem ou que hão de acontecer, sejam resolvidas por lá mesmo. Se com nosso apoio, desde que não prejudique o povo brasileiro.
O país, que se chame de independente, deve ser considerado soberano... E ao tratar os outros com respeito às suas soberanias, haja também o direito de ser soberano.