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Maior de todos ou fura-bolo?
Comentou-me um amigo que, há meses, não via um dos seus amigos. E logo me confidenciou que talvez tivesse acontecido alguma coisa entre eles, no mínimo, sem desejar, tê-lo-ía ofendido. Afinal de contas, tratava-se de pessoa com sensibilidade à flor da pele: levava a sério qualquer brincadeira e não suportava a mais leve ironia, considerando-a sempre um sarcasmo; mesmo assim o ironizava, não no sentido de zombar, mas de torná-lo menos invejoso, vaidoso e presunçoso. Por “esses defeitos”, especialmente o da inveja, tal amizade sofria constrangimentos, contudo tinha-a em apreço, não sabia o porquê, mas sentia falta daquele relacionamento.
Aproximou-se seu colega que ouvia tudo, fazendo que não escutava e diagnosticou: “não é seu amigo...”. Em seguida, mostrando a mão cheia de anéis, recorreu à conhecida comparação: “os amigos não passam de cinco como os dedos da mão.” Não aceitando tamanha limitação, transportei-me ao mundo das distinções, inclusões e exclusões; estaria eu dentre esses cinco? Perguntei-me, segundo a denominação aprendida na infância, ao qual dedo mais me assemelhava: ao “midinho”, ao “senhor vizinho”, ao “fura-bolo” ou ao “cata-piolho”? Com certeza, o “maior de todos” seria o amigo “invejoso e vaidoso”. Fui além da infância ao lembrar-me de que há adulto que corta o dedo para receber compensações indenizáveis como acidente de trabalho e que, no frisson das concorrências e dos interesses acima de tudo, há quem descarte o amigo para não “atrapalhar” suas pretensões. Até nisso coincidia a popular analogia trazida à conversa pelo intruso que acrescentou: “ - Uma coisa que me deixa cheio de dedos é quem se diz amigo e, estando me vendo, faz que não me vê”.
Deixei de lado a “teoria dos dedos”, e o assunto me levou a filosofar o conceito de amizade, da “filia”, desinteresseira, que une temperamentos diferentes que se complementam e se adequam ao sentido altruístico de ser disponível um ao outro e que, sendo assim, tudo perdoa ou nada perdoa porque nada haveria a perdoar... Antigos filósofos, de tanto refletirem sobre a amizade, encontraram nela a mais perfeita forma de amor humano. Não é por menos que se sinta falta de um amigo, mesmo quando “trabalhoso”. E que alguns cultos pregadores, admoestando os noivos, repitam: “o sexo não é tudo; para preservar o amor entre vocês, sejam sobretudo amigos um do outro” ...
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Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 21/06/2012
Alterado em 23/06/2012
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